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Salários de executivos do alto escalão resistem à crise

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos últimos 12 meses, apesar do tímido crescimento econômico, da brusca variação do dólar e da desaceleração da economia americana, a remuneração de executivos do alto escalão, em média, manteve-se estável, com algumas peculiaridades. Os salários de presidente, diretor comercial, gerente financeiro e controller superaram a inflação. Mas diretores financeiro e de RH e gerente industrial perderam. Enquanto presidentes tiveram ínfimo ganho real (acima da inflação) de 0,36%, diretores comerciais e gerentes de marketing conquistaram reajustes gordos. A mesma sorte não tiveram os diretores financeiros e os de recursos humanos, cujos salários foram desvalorizados, respectivamente, em 6,53% e 6,07% em relação à inflação de 8,81% acumulada nos últimos 12 meses, medida pelo INPC. Na conta foram incluídos os ganhos extras de remuneração variável, como bônus. Estes são alguns dados de uma recém-concluída pesquisa da Andersen feita com 152 empresas do País no período de maio de 2001 ao mesmo mês deste ano. Um total de 56,5 % das empresas ouvidas pela consultoria são de grande porte; 33,1% de médio porte e 10,4%, pequeno. Desafios - Numa fase em que as empresas buscam outros mercados exportadores, não surpreende os pesquisadores o fato de o cargo de diretor comercial ter sido o que mais apresentou ganho real (pulou de R$ 19.633 para R$ 21.824, um ajuste de 11 16%). Descontada a inflação do INPC do período, de 8,81%, o salário desse executivo teve acréscimo de 2,16%, contabilizando sua remuneração variável. Levando em conta apenas o salário nominal (sem os méritos por resultados) seus ganhos ficam em R$ 19.257. O estudo indica a média do mercado, mas há companhias com faturamento superior a US$ 70 milhões que remuneram o diretor comercial em até R$ 24.827. "No salário-base, o gerente de marketing foi o mais valorizado e na remuneração variável ganhou o diretor comercial", avalia o sócio-diretor da Deloitte Touche Tohmatsu, Vicente Picarelli, responsável pela pesquisa. "Apesar de todos os problemas, em geral os executivos conseguiram manter seus negócios competitivos e, com isso, sua remuneração se manteve estável." Desde o dia 1.º de junho, os sócios da Andersen foram integrados pela Deloitte, mas o estudo se deu antes e leva a marca Andersen. Papel estratégico - Para Picarelli, a função do gerente de marketing reconquistou a importância. Seu salário-base cresceu 11,66%, - de R$ 7.662 para R$ 8.511 -, ou seja, 2,62% acima da inflação, mas o posto não teve bônus por desempenho. Por isso, na conta final, teve prejuízo de 0,89%. Picarelli diz ser compreensível que o o executivo da área comercial se destaque. "Temos uma disputa acirrada por novos mercados, principalmente em setores como telecomunicações, produtos de consumo, e finanças, em que se exige crescimento de market share (participação de mercado). É natural que esse cargo evolua e o de marketing cresça na esteira da valorização das marcas." Pressão - Fernando Schneider, de 28 anos, diretor-superintendente do Grupo APSA, que responde pela área comercial da empresa carioca do ramo imobiliário, sabe bem o que é ter remuneração vinculada ao desempenho. Ele conta que o grupo cresceu 10% no ano passado e sua remuneração subiu 12%. "Por trabalhar com administração de imóveis, não sentimos tanto com a instabilidade econômica, mas o meu cargo tem muita cobrança", diz. "Enfrentamos a ameaça de competitividade de grupos externos que chegam ao Rio de Janeiro." Com isso, Schneider - que comanda uma equipe de oito gerentes - passou a ter várias reuniões e se relacionar mais com o seu time para definir caminhos de forma mais rápida. Fez um MBA para estar melhor preparado e, agora, se dedica ao mestrado em administração. Reinaldo Morilha, de 51 anos, diretor comercial da Nera Telecomunicações, companhia norueguesa produtora de equipamentos para comunicação wirelless (sem fio), sentiu o baque de atuar em um segmento em dificuldade. Recém-chegado à companhia, ele, que antes comandava a DMC (de lá saiu quando a empresa não atingiu resultados), viu sua remuneração emagrecer, mas tirou proveito da fase. Continuou na empresa como representante, aproveitou para fazer um MBA e retomar o fôlego. "Foi bom conviver com um pouco mais de liberdade, ainda que a minha remuneração tenha caído." Refeito, ele, graduado pela Escola Politécnica da USP e com experiência no mercado internacional, atua na Nera em uma área estratégica. "A carreira de diretor comercial é muito cobrada, mas dá muita visibilidade. Como nesse tempo os desafios são maiores no setor de telecomunicações, o cargo requer pessoas mais dispostas e, por isso, melhor remuneradas."

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