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Saldo da balança comercial vira polêmica

Por Agencia Estado
Atualização:

O saldo da balança comercial pode ser pelo menos de US$ 600 milhões a mais do que mostram as estatísticas oficiais. Esse é o valor da diferença entre os embarques de produtos do complexo soja (grão, farelo e óleo) e os valores que aparecem nos dados da balança comercial, elaborados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A discrepância está intrigando técnicos do governo e analistas de mercado. Nenhuma explicação foi encontrada. Até a semana passada, o superávit comercial do ano estava em US$ 5,782 bilhões, mas poderia estar em US$ 6,382 bilhões. Os analistas de mercado são unânimes em calcular que, neste ano, as exportações do complexo soja vão crescer. As estimativas de ganho variam de US$ 360 milhões a US$ 450 milhões. Direção contrária No entanto, os dados da balança apontam na direção contrária. De janeiro a agosto, as exportações estariam US$ 485 milhões menores do que as do ano passado. Há, portanto, uma diferença de US$ 845 milhões a US$ 935 milhões entre os dados do mercado e os do governo. Como nem toda a soja foi embarcada até o momento, estima-se que a diferença estaria, a essa altura, em torno de US$ 600 milhões. Oficialmente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) afirma que não há nada de errado com as estatísticas da balança. Porém, dentro do próprio governo e no mercado há uma forte suspeita, quase uma convicção, de que os dados da balança estão errados. Hipótese de fraude Os técnicos estão investigando todas as possibilidades, desde movimentos de mercado ou algum tipo de operação financeira não tradicional nesse setor a até mesmo a hipótese de fraude. Analistas e técnicos admitem a possibilidade de haver erro nas estatísticas do mercado. Por outro lado, acham que todas as evidências apontam para o crescimento e não para a queda das exportações. "Não sabemos o que está acontecendo, mas o bom senso indica que as exportações são maiores do que aparecem na balança", disse um técnico da área econômica. O assunto preocupa o governo e já foi tema de reuniões e troca de telefonemas entre os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento e da Fazenda. ?Não faz sentido? A expectativa, segundo um técnico, é que essa diferença "apareça" em algum momento, com impacto positivo na balança comercial. Os dados da balança mostram que, no período de janeiro a julho, a quantidade de soja em grão exportada pelo Brasil foi 26,10% menor do que no ano passado, enquanto as vendas de farelo caíram 13,35%, e as de óleo, 13,94%. "Não faz sentido", afirmou um técnico. "O preço da soja subiu no mercado internacional, o dólar está bom para o exportador, e esta safra é maior do que a passada; não tem como cair a exportação, de jeito nenhum." A discrepância entre a balança e os dados de mercado surgiu há alguns meses. Greve A discrepância entre a balança e os dados de mercado surgiu há alguns meses. "No começo, não nos preocupamos muito porque achamos que era algum efeito da greve da Receita", explicou um técnico. Os fiscais fizeram paralisações entre abril e julho, sendo que o mês mais agudo foi em junho. Nesse mês, houve retenção tanto de exportações quanto de importações. Portanto, era possível haver alguma distorção nos dados. "Mas agora a greve está distante e ainda assim temos essa diferença grande, para a qual não achamos uma boa explicação até agora", disse. Consumo interno Diversas hipóteses estão sendo levantadas para explicar essa diferença. Uma delas é que as exportações estariam menores porque aumentou a demanda, no mercado interno, de farelo de soja para ração animal. O aumento do consumo ocorreu devido ao crescimento das exportações de carne de frango e suína. "Isso pode explicar apenas uma parte do problema, porque as estatísticas do mercado já embutem esse aumento de consumo do farelo", explicou um técnico. Soja americana Outra possibilidade seria os exportadores estarem atrasando os embarques para tentar obter um preço melhor. "Seria um erro estratégico", explicou o técnico. "Em setembro e outubro começa a entrar no mercado a safra de soja dos Estados Unidos." Apesar de a seca haver provocado quebra na safra norte-americana, não faria sentido o exportador brasileiro ficar esperando a soja concorrente entrar no mercado, ainda que numa quantidade menor do que a esperada. O movimento do mercado também indica que a soja não ficou estocada no Brasil. "Não há estoque nas empresas", afirmou outro técnico do governo. "Quem precisa de soja está entrando com agressividade no mercado, pagando R$ 41 a saca, o que é um preço 46% maior do que o da safra anterior." Diferença Técnicos do governo admitem ainda que não é a primeira vez que os dados da balança não batem com os dos exportadores. Normalmente, o problema é corrigido rapidamente. "Mas nunca vimos uma diferença tão grande", comentou um deles. Ainda que os dados da Secex não estejam corretos e o saldo seja, de fato, entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões maior do que o atual, isso não afetará as projeções de saldo para o ano. O governo estima um superávit acumulado de até US$ 8 bilhões em 2002, mas nessa projeção já está contabilizada toda a exportação da soja.

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