O Brasil encerrou o mês de março com um saldo negativo de US$ 4,429 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos. Este é o pior resultado para o mês. No primeiro trimestre, o déficit acumulado é de US$ 10,757 bilhões, também o resultado mais baixo para o período na série histórica do Banco Central (BC), inicada em 1947. Veja também: Investimento estrangeiro no País bate recorde no trimestre O chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes, avalia que a piora do resultado das contas externas é resultado, principalmente, do aumento das remessas de lucros e dividendos feitas pelas empresas multinacionais instaladas no Brasil, que saltaram 118%. Ele rejeita a avaliação de que a piora de resultado das contas externas tenha relação com a crise internacional. O salto é explicado por ele pelo aumento da rentabilidade das empresas no Brasil, câmbio favorável para as remessas e necessidade de cobrir prejuízos no exterior. Ele lembrou que três setores - financeiro, veículos e metalurgia - responderam por 63,3% de todas as remessas no trimestre. Nesses três segmentos, algumas multinacionais têm registrado problemas financeiros nas sedes, o que aumenta a necessidade de reforço de caixa. Balança comercial Altamir reconheceu que há uma "deterioração" na conta corrente e disse ainda que a balança comercial contribuiu para isso, com resultados considerados menos expressivos, em virtude do crescimento robusto das importações. Por este lado, ele avalia que é necessário esperar algum tempo para ver qual é a tendência desse ritmo de deterioração porque o comércio exterior tem enfrentado problemas específicos, como a greve dos auditores fiscais da Receita Federal, a dificuldade de exportação para a Argentina, e problemas de embarque de soja e minério de ferro. "De qualquer forma, é um momento atípico para o movimento de comércio. Temos de esperar para ver qual é a tendência de fato", declarou. Altamir disse ainda que, apesar de no primeiro trimestre deste ano o déficit na conta corrente ter ficado acima do investimento estrangeiro direto (IED) no período (US$ 8,799 bilhões), ele foi financiado complementarmente pela taxa de rolagem dos empréstimos de médio longo prazo, que atingiu 229% no período. Porém, ele ressaltou que, no ano, o IED vai mais que financiar o déficit na conta corrente, mesmo considerando a possibilidade de revisão na estimativa de déficit nesta conta, hoje projetada em US$ 12 bilhões pelo BC. A estimativa do BC para o IED em 2008 é de US$ 32 bilhões.