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Salvação da Varig não foi um bom negócio, afirma consultor

Processo de recuperação deixou uma herança de dívidas, desemprego e suspensão de vôos

Por Alberto Komatsu
Atualização:

A Varig, vendida por US$ 320 milhões para a Gol, num processo de reestruturação sob suspeita de ter tido ingerência do governo, é hoje uma empresa com 3,7 mil funcionários, 34 aviões, apenas um vôo para a Europa (Paris), quatro para a América do Sul e vôos para 12 cidades brasileiras. O processo de recuperação judicial deixou uma herança de 7,3 mil aposentados, alguns recebendo só 20% de seus benefícios pelo fundo de pensão Aerus, em liquidação por causa de um rombo de R$ 3,5 bilhões. "Não valeu a pena salvar a Varig. Pelo lado social, o desemprego foi intenso. A rede de vôos internacionais foi liquidada, restaram os slots (intervalos de pouso e decolagem) de Congonhas, mais valiosos que o próprio nome dela", opina o consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio. Na época do leilão da Varig, em julho de 2006, o auge da crise a deixou com dois aviões e vôos apenas na Ponte-Aérea. Dos 9,5 mil funcionários, 5,5 mil foram demitidos. Como resultado, a companhia que já teve a hegemonia nos vôos dentro do País e para o exterior caiu para 2% do mercado nacional. Em maio, a Varig tinha 7,97% dos vôos nacionais e 16,68% dos internacionais. Quando foi adquirida pela Gol, em 28 de março de 2007, a Varig tinha 2 mil funcionários e 18 aeronaves. Até o quadro atual, foram contratadas 1,7 mil pessoas, sendo 850 da Varig que permanece em recuperação judicial, que virou Flex. Os planos da Varig para este ano incluem um total de 4,1 mil trabalhadores e a redução da frota para 29 aeronaves. Sampaio recorda da Varig que, no auge, voava para quase 50 destinos internacionais, todas as capitais brasileiras, com mais de 100 aviões e 16 mil funcionários. Em 1991, um dos melhores anos, a Varig tinha mais de 90% dos vôos internacionais operados por empresas brasileiras. No mercado local a participação era de 45%. A reestruturação deixou outra herança, uma dívida de R$ 7 bilhões herdada pela Flex. Só de pendências trabalhistas são R$ 500 milhões. Seu único avião é alugado pela própria Varig. A maior esperança de recuperação da Flex reside numa ação que cobra R$ 5 bilhões por perdas com o congelamento de tarifas entre os anos 80 e 90. Como parte do plano de recuperação judicial da Varig, a Gol antecipou uma emissão de debêntures de R$ 97 milhões, sendo duas operações de R$ 48,5 milhões, lembra a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio. Uma dessas emissões rendeu ao Aerus R$ 34 milhões. Mesmo assim, muitos aposentados ainda lutam para sobreviver.

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