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Sarkozy ameaça vetar acordo

Presidente francês critica emergentes e exige contrapartidas nas negociações comerciais

Por Jamil Chade
Atualização:

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, ataca as posições de Brasil, Índia e China nas negociações comerciais e avisa que Paris vetará um acordo se não receber algo em troca na Organização Mundial do Comércio (OMC) ou se os interesses da França não forem atendidos. Demonstrando que não aceitará qualquer acordo, Sarkozy fala até mesmo em recolocar temas já rejeitados na OMC há anos e repensar o mandato da entidade. Para completar, o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, ainda criticou ontem os países emergentes por estarem bloqueando a abertura de seus mercados de bens industriais. O tiroteio ocorre em um momento de crise na OMC, que precisa concluir um acordo até o próximo mês. ''''Grandes países emergentes querem ter os mesmos direitos das grandes nações. Mas devem também aceitar os mesmos deveres'''', afirmou Sarkozy. ''''Eu disse a alguns de nossos grandes parceiros, como Índia, Brasil, China e Argentina, que a Europa não terá uma postura inocente.'''' ''''Os países emergentes consideram que eles só têm direitos e nenhum dever no sistema comercial. Mas o sucesso da rodada depende deles.'''' A crítica dos europeus se refere à resistência dos emergentes em aceitar uma liberalização no setor industrial de suas economias. Para Sarkozy, os objetivos das negociações precisam ser repensados. ''''É difícil continuar como se nada estivesse ocorrendo. Estamos nos distanciando um pouco dos objetivos iniciais da Rodada.'''' O presidente francês chegou a mencionar temas já bloqueados por países emergentes há pelo menos cinco anos, como regras de investimentos. ''''Convém talvez refletir sobre a melhor maneira de sair da atual lógica de negociações e reintroduzir temas importantes para a Europa.'''' Sobre a possibilidade de abrir o mercado agrícola, Sarkozy disse que vai se manter inflexível. ''''A França exige reciprocidade e equilíbrio.'''' Para ele, só deve haver queda das tarifas de importação se os americanos cortarem seus subsídios. Sarkozy deixou claro que vetaria um acordo que ''''não sirva aos interesses da França''''e disse que se recusa a abandonar os agricultores. ''''Vou me opor a todo acordo que não sirva aos interesses do país. Esse é o mandato que recebi.'''' Enquanto na França Sarkozy atacava os países emergentes e os Estados Unidos, ontem, em reunião no Parlamento Europeu, Peter Mandelson deixou claro que, se um entendimento não for fechado na OMC até outubro, a campanha eleitoral americana acabará imobilizando o processo e a OMC simplesmente não concluirá a Rodada Doha. ''''O relógio está correndo'''', alertou. ''''Se não houver um acordo de modalidades até outubro, qualquer conclusão da Rodada Doha será muito improvável. A campanha presidencial nos Estados Unidos entrará em sua fase crucial e a Rodada será conduzida para um estado de congelamento indefinido'''', disse Mandelson.

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