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Sarkozy anuncia reforma do ''modelo capitalista'' francês

Por Andrei Netto
Atualização:

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou ontem a reforma do modelo de capitalismo social do país - marcado pelo grau elevado de regulação e de participação do Estado -, dando início a um projeto de desenvolvimento pós-crise. A decisão foi apresentada ontem em discurso ao Parlamento, reunido no Palácio de Versalhes, e não representa o abandono do modelo resistente ao liberalismo, mas sua modernização. Reformas fiscais, previdenciárias e do setor produtivo entrarão em pauta nos próximos três anos, bem como investimentos maciços em energias renováveis e criação digital. A apresentação das diretrizes foi feita em uma declaração inédita a deputados e senadores - um procedimento que não era realizado desde o discurso golpista de Napoleão III, em 1851 - e foi definida como Ato 2 do governo de Sarkozy, que completou dois anos em maio. O presidente anunciou que fará amanhã uma reforma ministerial para, então, preparar a retomada do crescimento. "A crise não acabou e não sabemos até quando ela irá", afirmou o francês. "Ela nos deixa mais livres para rever o futuro e anuncia um mundo em que as demandas de Justiça e de regulação serão maiores", ponderou. Em tom triunfante, Sarkozy disse acreditar que o modelo francês, marcado pela intervenção do Estado na economia, sai fortalecido. "A crise traz de volta o modelo francês de uma economia a serviço do homem." Porém, será necessário atualizá-lo, entende o chefe de Estado. Sarkozy não detalhou as medidas que adotará, mas informou os setores prioritários: administração pública, com aprimoramento dos gastos e redução de pessoal, reforma da previdência, inclusive com aumento do tempo de trabalho, reestruturação fiscal e reorganização no setor produtivo, estimulando a retomada da industrialização do país. A implementação das medidas dependerá da nomeação do novo ministério, de discussões entre governo e oposição e de fóruns entre patrões e sindicatos, mas deve ter início até 2010. A disposição de Sarkozy terá como obstáculo o déficit público do país - um dos mais elevados da União Europeia. No domingo, o ministro do Orçamento, Eric Woerth, anunciou que o déficit ficará entre 7% e 7,5% do PIB em 2009 e em 2010 - em torno de ? 115 bilhões.

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