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Sarkozy quer regulação na pauta do G-8 e G-20

Para o presidente da França, reforma do sistema financeiro precisa ser concluída por contas das recentes mudanças no cenário econômico mundial

Por Andrei Netto
Atualização:

No que depender do anfitrião, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, as reuniões do G-8 e do G-20, previstas para maio, em Deauville, e em novembro, em Cannes, terão um tema central: regulação. Segundo as diretrizes apresentadas ontem em Paris por Sarkozy, a reforma do sistema financeiro, a criação de marcos legais para a especulação sobre o comércio de matérias-primas e a criação de uma taxa sobre transações financeiras serão as prioridades para 2011.O anúncio foi feito na manhã de ontem, no Palácio do Eliseu, em Paris. Sarkozy afirmou que as reformas do sistema financeiro precisam ser levadas até o fim porque o cenário econômico mudou entre 1945 e 2010. Segundo o presidente, nos últimos 40 anos a comunidade internacional teria atravessado 125 crises no sistema financeiro, problema mais que reincidente. "Não apenas as crises não acabam, como estão se repetindo e se acelerando cada vez mais", justificou, afirmando: "Não há sistema monetário internacional desde 1971".Para reduzir a intensidade e a frequência das crises, Sarkozy tem como receita a regulação. A primeira preocupação da presidência francesa do G-8 e do G-20 é evitar o que o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, definiu como "guerra cambial". Segundo o chefe de Estado, seu governo não vai defender a volta do sistema de câmbio fixo, mas sim alternativas para reequilibrar o câmbio internacional. Uma das alternativas em estudo são medidas para conter a acumulação de reservas - uma prática adotada por bancos centrais de países como Brasil e China. "A criação de reservas pesa e custa muito caro para todos", afirmou Sarkozy, questionando: "Como melhor regular os fluxos de capitais internacionais? O quadro (legal) que nós vivemos hoje é ultrapassado".Sarkozy defendeu a ampliação do uso dos DTS (Special Drawing Rights), com a integração de moedas como o yuan, da China. "O dólar é e continuará a divisa preponderante. A questão que é posta é que moeda preponderante não quer dizer única." Sarkozy se disse contra as medidas de controle de fluxo de capital - como o Imposto sobre Movimentações Financeiras (IOF), adotado pelo Brasil - e voltou a defender a criação de uma taxa internacional sobre operações financeiras, que ele definiu como "instrumento de financiamento inovador". Nesse ponto, o presidente francês admitiu que a proposta enfrenta a oposição de diferentes países do G-20. "Sei bem que essa taxa tem grandes inimigos, grandes adversários. Tentaremos para convencê-los."Outro projeto polêmico de Sarkozy é a criação de um "modelo social universal" - com uma espécie de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) mundial -, que será discutido em um evento à parte, a "cúpula social", a ser realizada na véspera em novembro com a presença dos ministros do Trabalho do G-20. O objetivo da medida seria reduzir os efeitos do que a Europa chama de "dumping social", ou seja, o uso de políticas de salários baixos e direitos sociais restritos como mecanismo para aumentar a competitividade dos países. A primeira reunião de nível ministerial do G-20 ocorrerá em Paris em 17 de fevereiro, com a presença dos ministros da Economia e presidentes de bancos centrais dos países-membros e dos quatro convidados.

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