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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Se melhora da pandemia persistir, taxa de desemprego deverá continuar em queda

Com recuo da covid, recuperação dos setores de comércio e serviços vai se intensificar, o que vai acelerar a geração de postos de trabalho

Atualização:

Os últimos dados do mercado de trabalho brasileiro, tanto do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) como da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, mostram uma retomada forte da geração de postos de trabalho a partir de maio de 2021. Os dados do Caged, empregos formais, já mostram comportamento positivo desde o início do ano, e agosto não fugiu a esta regra. Foram gerados 372 mil postos de trabalho com carteira assinada no mês. Todos os setores de atividade estão gerando empregos formais e os destaques dos últimos meses foram os setores de comércio e serviços (77,8 mil e 179,5 mil empregos formais em agosto, respectivamente). Com isso, o total de empregos com carteira assinada gerados entre janeiro e agosto de 2021 atingiu 2,2 milhões. Um recorde da série histórica.

Os dados da Pnad Contínua, que cobrem o mercado de trabalho formal e informal, foram, no início do ano, um importante contraponto ao Caged. Após um final de 2020 relativamente positivo, com a geração de 1,7 milhão de postos de trabalho no trimestre novembro 2020/janeiro 2021, a geração de postos de trabalho informada pela Pnad Contínua desacelerou fortemente, atingindo o nível mais baixo no trimestre janeiro-março, quando houve a destruição de 541 mil postos de trabalho. Também neste caso os setores de comércio e serviços foram os mais atingidos negativamente.

Setores de comércio e serviços foram os mais atingidos negativamente pela pandemia. Foto: Alex Silva/Estadão

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Esta disparidade entre as pesquisas gerou importante debate sobre qual delas melhor refletiria o desempenho do mercado de trabalho. Para alguns analistas, as mudanças metodológicas introduzidas no Caged estariam superestimando o desempenho do mercado de trabalho. Para outros, fatores técnicos relacionados à incapacidade de manter as entrevistas presenciais e a defasagem temporal estariam criando um viés negativo para a Pnad Contínua. 

Entretanto, além destes problemas técnicos, a desaceleração detectada pela Pnad Contínua está também relacionada à piora do cenário da pandemia. O aumento do número de casos e de óbitos a partir de janeiro de 2021 levou a uma intensificação das medidas de isolamento social, controle de mobilidade urbana e forte redução na demanda por trabalho nos setores de comércio e serviços, que concentram parte significativa do emprego informal.

A evolução da pandemia a partir de junho de 2021, saindo de uma média móvel de óbitos próxima a 3,5 mil/dia em maio para menos de 500/dia em outubro, está permitindo flexibilização das medidas de restrição à mobilidade e de distanciamento social e aumentou a percepção de segurança da população, que começou a voltar às ruas, a frequentar bares, restaurantes, eventos, estádios, etc. O resultado é o crescimento na demanda por serviços, principalmente dos serviços de alimentação, comércio de rua, alojamento, entre outros grupos que são muito intensivos em mão de obra pouco qualificada e informal.

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O reflexo desta mudança de comportamento sobre os dados da Pnad Contínua foi imediato. No trimestre terminado em maio foram criados 715 mil postos de trabalho; no terminado em junho, 2,1 milhões; e no terminado em julho, 3,1 milhões de postos de trabalho. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego, que atingiu 14,7% da força de trabalho no trimestre terminado em abril, entrou em trajetória de queda acentuada, chegando a 13,7% da força de trabalho no trimestre encerrado em julho. Uma redução de 1 ponto de porcentagem em três meses. E, como esperado, são os setores de comércio e serviços que comandam a retomada.

Caso a pandemia persista na trajetória de melhora, a recuperação dos setores de comércio e serviços vai continuar a se intensificar, o que vai acelerar a geração de postos de trabalho, principalmente de trabalhadores pouco qualificados e informais. Com isso, a taxa de desemprego deverá continuar em queda e a geração de postos de trabalho, principalmente informais, em elevação. Um resultado bastante positivo, principalmente se levarmos em consideração que foi exatamente este grupo de trabalhadores que mais sofreu os efeitos negativos da pandemia. Boas-festas.

*PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC/RIO (APOSENTADO), É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS