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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Se o Banco Central for muito comedido no câmbio, o dólar pode voltar a encostar em R$ 6

Do ponto de vista doméstico, a eleição presidencial será o principal fator de instabilidade em 2022 para a moeda americana

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Atualização:

Uma tempestade perfeita ameaça desabar sobre o câmbio em 2022, forçando o Banco Central a fazer uma delicada escolha desde já: se antecipar e intervir agressivamente para conter uma alta mais indesejável do dólar a um patamar perigoso ante o real na virada do ano ou deixar a cotação flutuar ao sabor das forças de mercado em vez de gastar artilharia para impedir a inevitável valorização da moeda americana.

Na semana passada, o dólar chegou a superar o patamar de R$ 5,57. O BC surpreendeu o mercado com leilões extras de swap cambial equivalente à venda de dólares no mercado futuro), ofertando na semana US$ 3,7 bilhões. A estratégia surtiu efeito temporário, e o dólar fechou a semana passada em queda de 0,77%, para R$ 5,45. Mas com o estresse causado pelo noticiário sobre o auxílio emergencial fora do teto, o dólar quase bateu em R$ 5,60, mesmo com o BC vendendo dólar à vista. Seria esse nível demasiado elevado para se chegar ao fim do ano diante dos fatores que deverão pressionar o dólar para cima em 2022?

Com a corrida eleitoral já na rua, o dólar poderá flertar com os R$ 6 em muitas ocasiões. Foto: Marcelo Del Pozo/Reuters

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A retirada da liquidez injetada nos Estados Unidos desde a pandemia pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que provavelmente anunciará em novembro a redução no volume mensal de compras de ativos, deverá dar impulso ao valor do dólar globalmente.

Além disso, uma desaceleração da China, maior comprador de matérias-primas, deve tirar o fôlego nos preços das principais commodities e, com isso, reduzir o vetor positivo da balança comercial para fortalecer o câmbio no Brasil.

Do ponto de vista doméstico, a eleição presidencial será o principal fator de instabilidade em 2022 para os preços dos ativos brasileiros, em particular o câmbio, especialmente em razão do risco fiscal.

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O quanto o BC deveria vender dólares para impedir que a moeda americana comece 2022 em níveis indesejados? É difícil prever um valor, até porque não é só o montante ofertado que faz diferença, mas também a estratégia: quanto mais o BC surpreender o mercado, com intervenções pontuais sem um objetivo claro de fixar um teto para o dólar, tornará mais custoso para o mercado apostar contra o real.

A preocupação com o nível do dólar pelo BC tem a ver com o aumento no repasse aos preços da economia da desvalorização cambial. Além disso, ao manter a cotação do dólar sob controle, o BC não precisará elevar tanto a taxa Selic para fazer a inflação convergir para a meta em 2022, de 3,50%.

Se o BC for muito comedido ao intervir no câmbio até o fim do ano, não se admira se o dólar voltar a encostar em R$ 6,00 em momentos de nervosismo. E, com a corrida eleitoral já na rua, haverá muitos desses momentos.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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