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Se trigo argentino faltar, preço do pão pode subir

Brasil consome cerca de 10 milhões de toneladas por ano, produz 2,5 milhões de toneladas e o restante importa, sobretudo da Argentina, porque não há imposto

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Por Redação
Atualização:

A crise energética da Argentina deve agravar o abastecimento de farinha de trigo no País nos próximos meses e elevar em, no mínimo, 10% os preços do produto no atacado. A previsão é do presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo, Luiz Martins. Com isso, é possível que o consumidor, em breve, comece a pagar mais caro pelo pão no Brasil. Martins diz que a Argentina, o grande fornecedor de trigo para o Brasil, havia suspendido as licenças de exportações do grão em maio para garantir o abastecimento doméstico diante da safra menor. Com a crise energética, o quadro piorou porque agora os moinhos daquele país estão trabalhando em turnos reduzidos e devem também diminuir as exportações de farinha para o Brasil. Segundo Martins, há moinhos argentinos parados 8 horas por dia, quando o normal é trabalhar 24 horas. "Vai faltar trigo para fabricação de farinha nos próximos meses", prevê Martins. Apesar de ser um grande produtor de grãos, o Brasil não é auto-suficiente em trigo. Consome cerca de 10 milhões de toneladas por ano, produz 2,5 milhões de toneladas e o restante importa, sobretudo da Argentina, porque não há imposto de importação sobre o grão. A saída que já vem sendo adotada pela indústria, especialmente pelos moinhos do Nordeste, é a importação de trigo dos Estados Unidos, Canadá e Rússia. Ocorre, no entanto, que sobre esse produto incide a Tarifa Externa Comum (TEC), que é um imposto de 10%. Por isso, nas contas do presidente do Sindicato da Indústria do Trigo, o preço da farinha deverá subir, no mínimo, 10% no atacado nos próximos meses. "O governo brasileiro vem sendo advertido desde maio para esse problema", diz Martins. A alternativa,diz ele, é eliminar o imposto de importação para não gerar pressões de preços no mercado interno. Preços já estão em alta De toda forma, o preço do trigo e da farinha já estão subindo em razão da menor safra mundial do grão. Nos últimos três meses, o preço da farinha de trigo no mercado doméstico aumentou 33% no atacado em reais. Em igual período, a tonelada de trigo subiu 40,5% em dólar, diz Martins. Enquanto a crise energética faz soar o sinal de alerta para cadeia produtiva do trigo no País, ela abre oportunidades de negócios para a soja. A Argentina é um grande exportador de óleo e farelo de soja. Segundo dados da Cámara de la Industria Aceitera de la República Argentina (CIARA), instituição que reúne a maioria das empresas que processam óleos vegetais e farinhas, o país exportou no ano passado 23,9 milhões de toneladas de farelo de soja e 5,7 milhões de toneladas de óleo. Cerca de 60% do farelo vai para União Européia e entre 65% e 70% do óleo para a Ásia. "A crise energética poderá afetar as exportações argentinas", afirma o diretor executivo da CIARA, Alberto Rodriguez. Ele diz que ainda é difícil mensurar os efeitos, mas admite que já há limitações no funcionamento das fábricas. Se a Argentina não conseguir atender o mercado internacional, cria-se uma oportunidade para o Brasil ampliar as exportações de produtos de maior valor, avalia a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Por questões tributárias, as exportações brasileiras do complexo soja estão concentradas no grão. Em 2006, o País vendeu para o exterior 26 milhões de toneladas de soja em grão, 13 milhões de toneladas de farelo e 2,1 milhões de toneladas de óleo.

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