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Sebrae procura estimular pólos de produção

Por Agencia Estado
Atualização:

O brasileiro é um empreendedor nato daqueles que, na adversidade, cria alternativas econômicas de sobrevivência e indica até caminhos que podem viabilizar o crescimento do País em segmentos pouco ou nada visíveis. Muitas vezes só lhe falta o conhecimento, a junção do lado Índia, desses bravos sobreviventes, com o lado Bélgica, daqueles que detêm a inteligência e as técnicas mais avançadas de produção. A afirmação é do diretor-presidente nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Sérgio Moreira, que resgata a imagem de que somos uma "Belíndia", expressão cunhada pelo economista Edmar Bacha, para enfatizar aquilo que o Sebrae procura fazer. A união do conhecimento com o empreendedorismo. Os números não o desmentem: de cada sete brasileiros, um vive de empreendimento próprio. É esse contingente, que muitas vezes atua em separado, sem poder oferecer qualidade e preço, que o Sebrae pretende atingir. A intenção, diz Moreira, é criar "clusters", pólos de produção que possam apresentar um ambiente favorável para a transformação dessas iniciativas isoladas em associações ou cooperativas, a caminho de micro e pequenas empresas. Afinal, reforça Moreira, hoje a participação de pequenas e microempresas nas exportações americanas é de 57%, de 53% nas italianas e chega a 50% no caso do vizinho México. No Brasil, esse contingente ainda tem pouca participação, embora crescente em setores que demandam de mão-de-obra intensiva, como artesanato, confecção e móveis. Para o presidente do Sebrae, um ambiente e condições favoráveis surgem antes da definição do território de atuação em que irão interagir empreendedores, organizações não-governamentais, poder público e associações de classe. "As associações de classe são importantes porque abrem espaço para o surgimento das cooperativas ou das linhas integradas de produção", diz Moreira. Com isso e a garantia de acesso a insumos, equipamentos, um ambiente legal favorável, informação, tecnologia, crédito, poder de compra e formação profissional, pode-se chegar ao mercado de forma mais organizada. Nessa etapa, contarão muito os fatores design, marketing, canal de venda e logística. Um exemplo de cluster bem sucedido que o presidente nacional do Sebrae gosta de citar é o do pólo de confecções do Norte e Nordeste, em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano. Com cerca de R$ 20 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), será construída uma área que abrigará o parque fabril da região e a atual feira, que se realiza em outro local da cidade. Contará com 6.600 barracas de feirantes, das quais cerca de 50% já foram vendidas. A obra deverá ficar pronta em dois anos, em uma área coberta de 48,5 mil metros quadrados, com estacionamento para 1.500 veículos, incluindo vagas para 400 ônibus, além de praça de alimentação, posto médico, bancos e um complexo de bares, restaurantes e serviços. Essa iniciativa, associada à capacitação profissional, dará mais fôlego à "Terra da Sulanca". Sulanca é um nome popular dado a tecidos feitos com retalhos. Moreira lembra que, nos anos 40, os caminhões passavam e depois vendiam retalhos de elanca, que a população local trançava dando origem a tapetes e até roupas. Hoje, Santa Cruz do Capibaribe, que fica a 190 quilômetros de Recife, concentra mais de 3.500 micro e pequenas empresas têxteis. De acordo com os dados do Sebrae, a região garante emprego para cerca de 100 mil pessoas, entre moradores da cidade e municípios vizinhos, tem produção mensal estimada de 8 milhões de peças e um faturamento de R$ 25 milhões. Moraes reconhece, porém, que a grande maioria dos empresários trabalha na informalidade. "Num ambiente hostil, o único incentivo à produção do pólo pode-se dizer que foi o fiscal, com o governo estadual fazendo vista grossa para a cobrança dos tributos". Moraes garante que, se uma região como essa, de cluster, de uma atividade de produção definida, "recebesse metade das vantagens, incluindo a isenção fiscal, obtidas por montadoras que se instalaram nos Estados do Rio de Janeiro, Bahia e Paraná, o retorno seria muito maior." Ele justifica tal afirmação lembrando que, na adversidade, a produção do pólo de Sulanca é crescente e o número de empregos criados é impressionante. "Hoje, não há um só desempregado na região." Para transformar essa informalidade em capacitação dos produtores e trabalhadores, o Sebrae criou o projeto Sulanca Extra, com investimentos de R$ 3 milhões, e implantação prevista para um período de dois anos, em parceria com a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiep,) o governo de Pernambuco e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Trata-se de uma intervenção na cadeia produtiva, com a promoção do desenvolvimento sustentado das empresas, organização dos produtores, incentivo ao cooperativismo e apoio a um modelo de uma prefeitura empreendedora que atenda aos interesses dos produtores. É dessa forma e ensinando o caminho das pedras na obtenção do crédito e no estudo de viabilidade de mercado de um produto que o presidente do Sebrae acredita que o órgão estará tornando visível essa economia de formiguinha do chamado Brasil empreendedor.

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