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Secretário do Tesouro se retrata de declarações sobre o Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O´Neill, divulgou um breve comunicado, no início da noite desta sexta-feira, em que se retrata de declarações que fez nesta sexta pela manhã e que contribuíram para agravar a crise de confiança que o Brasil enfrenta no mercado de capitais. A nota, segundo O´Neill, se destina a "clarificar" seus "comentários anteriores". "O governo brasileiro está implementando as políticas econômicas corretas para tratar das dificuldades atuais", afirma o secretário do Tesouro na nota. "Por causa dessas políticas, apoiamos consistentemente o Brasil, inclusive por meio de seu atual programa com o FMI, lançado no verão passado, e do desembolso de US$ 10 bilhões, nesta semana, sob esse programa." O´Neill afirmou também que "o Brasil não pediu nenhum novo empréstimo e seus econômicos fundamentos são fortes". Ele concluiu lembrando que "o Brasil é um crucial parceiro regional e global dos Estados Unidos". No início desta sexta dia, O´Neill afirmou que se oporia à concessão de mais créditos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que o governo brasileiro não pediu, porque a causa dos problemas do País não é econômica, mas política. "Jogar o dinheiro do contribuinte dos Estados Unidos na incerteza política do Brasil não me parece ser (uma idéia) brilhante", disse o secretário do Tesouro, que fez uma série de declarações factualmente corretas, mas politicamente desastradas, nos momento mais delicados da crise financeira argentina. O secretário do Tesouro disse que os investidores "estão nervosos sobre o desfecho da eleição (presidencial) e não acho que haja um antídoto econômico para isso". O´Neill disse que "gostaria que as coisas estivessem mais estáveis". Mas, numa referência ao favoritismo do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas, ele insistiu em que "a situação brasileira é realmente uma função de seu processo político, do processo eleitoral, e não está claro para mim o que se pode fazer a respeito disso". A declaração de O´Neill foi pessimamente recebida pelo mercado. Um número crescente de analistas e operadores está convencido de que o País terá dificuldade de atravessar os próximos dois anos sem reestruturar sua dívida e poderá precisar de mais assistência do Fundo. Os EUA são o sócio majoritário e têm poder de veto sobre o uso dos recursos da instituição. A declaração de O´Neill causou espanto também no governo brasileiro, no FMI e em vários setores da própria administração americana. No início da noite desta sexta-feira, depois um telefonema de queixa do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ao subsecretário Internacional do Tesouro, John Taylor, e da intervenção da embaixada americana em Brasília, do departamento de Estado, do escritório do Representante Comercial (USTR) e do "staff" do Conselho de Segurança da Casa Branca, O´Neill divulgou a nota. A inoportuna declaração de O´Neill causou perplexidade também no FMI, onde o agravamento da volatilidade nos últimos dias provoca intensa ansiedade. No início da semana, o porta-voz da instituição, Tom Dawson, esclareceu que não havia nenhuma nova negociação de empréstimo em curso com o Brasil, mas evitou fechar portas. "Trataremos do futuro quando o futuro chegar", disse ele, enfatizando que o desembolso dos US$ 10 bilhões ao País, sob o programa vigente, deixou o governo e o País mais preparados para enfrentar as turbulências. O arroubo de sinceridade de O´Neill foi motivo de surpresa e frustração também no governo americano. Nesta sexta-feira pela manhã, a embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak, reforçou o que era, até então, a postura de Washington diante da crise de confiança, afirmando que o mercado estava exagerando sua reação negativa. Em Washington, alguns funcionários reagiram com espanto ao tomar conhecimento da declaração de O´Neill no início da tarde, ao final de uma reunião de representantes de vários ministérios. A reunião fora convocada para discutir como os EUA devem conduzir o diálogo bilateral com o Brasil no período de dificuldade econômica e incerteza eleitoral que o país já vive. Ironicamente, uma das conclusões foi que Washington deve manter sua posição de não envolvimento no processo eleitoral, deixar claro o apoio à atual política econômica e evitar decisões, afirmações ou iniciativas que possam aumentar os problemas já consideráveis que as autoridades brasileiras enfrentam. Perguntado pelo Estado se o Tesouro faria um esforço para consertar o estrago, o porta-voz Rob Nichols, disse inicialmente que não. "Mas confirmo que a declaração atribuída a O´Neill pelas agências de notícias corresponde ao que ele disse." No início da noite desta sexta, Nichols divulgou a nota de esclarecimento do secretário do Tesouro.

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