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Segredo de boa blitz nos postos está no sigilo

Por Agencia Estado
Atualização:

Na manhã do dia 22 de abril, 14 delegados e 28 investigadores da Polícia Civil de Bragança Paulista e região foram convocados para uma reunião na cidade. Surpresos e mal-humorados, eles se reuniram no prédio da Delegacia de Investigações Gerais. Foram divididos em 14 equipes de um delegado e dois investigadores. Cada equipe recebeu um envelope lacrado. Dentro, havia orientações detalhadas, em dez pontos, sobre a tarefa que os aguardava. Estava em marcha a Operação Combustível, uma experiência pioneira no combate à adulteração. Tudo começou em outubro do ano passado, quando o delegado Fernão Dias da Silva Leme recebeu denúncias de adulteração de combustíveis em postos de Bragança. Escalou homens desconhecidos na cidade para colher sigilosamente amostras de gasolina em todos os postos. As 32 amostras foram mandadas para a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que encontrou solvente em 12 delas. O delegado montou então a blitz nos 12 postos flagrados. Vieram assistir o diretor Haroldo Lima - um ex-deputado pelo PC do B da Bahia com reputação de honesto -, o coordenador de Fiscalização da agência, César Ramos Filho - agora afastado por suposto envolvimento em tráfico de influência -, três químicos e três fiscais da agência, o deputado Luiz Antonio Medeiros (PL-SP), presidente da CPI da Pirataria, e dois membros da Associação Brasileira de Combate à Falsificação. Novas amostras foram colhidas nos 12 postos, dessa vez interditados pela polícia. Juntavam-se três ou quatro amostras por vez, e elas eram levadas para exame no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo. Os técnicos já voltavam com o laudo. O leva-e-traz durou dois dias inteiros. No fim, foi confirmada a adulteração em 11 dos 12 postos. Eles ficaram interditados por períodos variados, de alguns dias até um mês, enquanto seus donos pediam liminares para serem reabertos. Os donos dos postos estão agora sendo ouvidos em inquérito aberto por estelionato e outras fraudes, formação de quadrilha ou bando, sonegação fiscal, crime contra o meio ambiente, contra a ordem econômica e tributária e contra o consumidor. Se condenados, podem pegar vários anos de cadeia. "Mas minha intenção é pegar as distribuidoras", diz o delegado Fernão Dias. "Chega de pegar só os pequenos neste País." De qualquer forma, o delegado acha que os donos de postos já foram castigados, com a interdição. Todo mundo na cidade ficou sabendo que eles vendiam gasolina adulterada, e sua clientela caiu drasticamente. "Tenho certeza de que esses nunca mais vão fazer isso", garante. Para ele, o sucesso de toda a operação está no sigilo. Não adianta mandar fiscais da ANP para um determinado posto: imediatamente, todos saberão da blitz, e tomarão providências para esconder seus produtos adulterados. "O certo é colher as amostras primeiro na surdina, e depois chegar de uma vez nos postos, já com os fiscais, para a segunda coleta", diz o delegado.

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