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Seguro do BC contra emergência cambial é quase 40% maior que na crise de 2008

Se forem consideradas apenas as reservas internacionais, o Brasil também enfrenta a atual crise com mais recursos

Por Fabrício de Castro
Atualização:

BRASÍLIA - O Banco Central acumula hoje recursos para atuar no mercado de câmbio de forma emergencial, durante a pandemia do novo coronavírus, em montante 38% superior ao verificado em 2008, quando ocorreu a crise financeira global

Banco Central Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

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Em 20 de março deste ano, o BC tinha disponíveis US$ 314,1 bilhões, em valores nominais, em sua posição cambial líquida. Em agosto de 2008, antes da quebra do banco Lehman Brothers, o montante era de US$ 227,4 bilhões. 

Desde o ano passado, o BC vem defendendo que a posição cambial é a principal referência a ser utilizada para análise de sua situação, e não as reservas internacionais do País. Isso porque a posição cambial leva em conta as reservas – indicador tradicional considerado em outros países e pelas agências globais de classificação de risco – e também outras fontes de recursos. 

As outras fontes englobam o estoque de operações de linha do BC (venda de dólares com compromisso de recompra), a posição da instituição em swap cambial (tipo de contrato ligado ao câmbio) e os Direitos Especiais de Saque (DES) do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). Não entram na conta os acordos especiais, como o fechado pelo BC com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em 19 de março, que garantiu US$ 60 bilhões adicionais ao Brasil por um período de seis meses

No início do ano, durante entrevista à imprensa, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, defendeu o uso da posição cambial líquida como referência na avaliação do tamanho do seguro que o Brasil tem contra crises cambiais. “Mais importante é olhar para a exposição cambial, e não só para um dos lados do balanço [reservas internacionais]”, afirmou Bruno Serra na ocasião. “O BC tem hoje diversos instrumentos de intervenção cambial.” 

Dentro do BC, a avaliação é de que as especificidades do mercado brasileiro de câmbio, com o tempo, fizeram o conceito puro de reservas internacionais deixar de ser o mais adequado para medir a segurança do País nas crises. 

No Brasil, ao contrário do que ocorre em outros países, o mercado cambial mais líquido é o de dólar futuro, e não o de dólar à vista. Assim, é a negociação de contratos futuros de dólar na B3 que acaba por determinar as cotações da moeda americana no segmento à vista – uma inversão do que ocorre no exterior. 

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Essa característica fez agentes do mercado demandarem mais dólar futuro do que moeda à vista nos últimos anos, inclusive nos momentos de crise. Para dar conta da demanda, o BC utiliza os contratos de swap, cuja negociação tem efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Em consequência, a autarquia também passou a defender a necessidade de considerar sua posição líquida em swaps no cálculo do montante disponível para emergências. Além das reservas internacionais e dos swaps, são considerados ainda as linhas cambiais e os DES. 

O conceito utilizado pelo BC, no entanto, é polêmico. Alguns economistas afirmam que o mais correto é observar o montante das reservas internacionais – um valor que pode ser comparado com o de outros países – e não a posição cambial líquida. A visão é de que o swap não substitui propriamente os recursos das reservas. Além disso, contratos de swap são liquidados em reais, e não em dólares, lembram os economistas. 

Reservas internacionais

Se forem consideradas apenas as reservas internacionais, o Brasil também enfrenta a atual crise com mais recursos. Os dados do BC mostram que, em 20 de março deste ano, as reservas somavam US$ 347,4 bilhões. O valor é cerca de 70% maior que os US$ 205,2 bilhões de agosto de 2008, antes da quebra do Lehman Brothers. A derrocada do banco americano é considerada um marco da crise na época.  

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Na noite desta terça-feira, 31, em entrevista à TV, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a instituição tem um arsenal “muito grande” para atuar no mercado de câmbio

Além disso, ele lembrou que o BC fechou em março acordo para uma linha de swap com o Federal Reserve no valor de US$ 60 bilhões. Por esta linha, o Fed recebe reais e disponibiliza ao Brasil dólares, em caso de necessidade. É uma espécie de “cheque especial” para o câmbio.

A linha terá duração de seis meses. Campos Neto já afirmou, no entanto, esperar que o BC não precise acessar esta linha, justamente porque tem ferramentas para atuar por conta própria.

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Em 29 de outubro de 2008, no auge da crise financeira global, o Fed também disponibilizou uma linha de swap para o BC brasileiro, por seis meses, no valor de US$ 30 bilhões – metade do ofertado agora. Na ocasião, o BC não precisou utilizar os recursos disponibilizados pelo Fed.

Desde que a crise relacionada ao novo coronavírus se intensificou, a partir do fim de fevereiro, o BC vem realizando operações de venda de dólares no mercado financeiro. Ele já atuou por meio de swaps (venda de dólares no mercado futuro), leilões de linha (venda de moeda com compromisso de recompra no futuro) e leilões à vista de dólares.

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De acordo com a autoridade monetária, as atuações têm como objetivo reduzir a volatilidade no câmbio. Ontem, Campos Neto afirmou que o BC não tem interesse em manter o dólar em determinado nível, mas sim em corrigir distorções. Na prática, quando o BC percebe demanda por dólares no mercado futuro, ele tem atuado com swaps. Quando a procura é por moeda física, a instituição convoca leilões à vista de dólares.

É uma espécie de “microgestão” do câmbio, que tem evitado maiores turbulências, mas não impede o avanço da moeda americana ante o real. Assim como verificado em outros países, o dólar à vista subiu de forma consistente no Brasil em março. No início da tarde de hoje, ele oscilava na faixa dos R$ 5,25