Como ficam os investimentos e a poupança com a Selic a 9,25%

Na renda fixa, as melhores apostas são em papéis atrelados a uma taxa flutuante, como o CDI ou a Selic, para curto prazo, ou ao IPCA+, para um prazo mais alongado; já quem quer algo no curtíssimo prazo deve cogitar aplicações isentas de IR

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Por Érika Motoda e Heloísa Scognamiglio
Atualização:
8 min de leitura

O rendimento bruto da poupança sobe de 0,44% para 0,5% ao mês agora que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros a 9,25%. Este foi o sétimo aumento consecutivo da Selic. Apesar do rendimento mais alto, a poupança é uma das aplicações que traz o menor retorno real ao investidor, ainda mais com a inflação projetada a 10,18% neste ano, segundo o Boletim Focus mais recente

Segundo a regra do Banco Central, a poupança rende 70% da Selic mais a taxa referencial (TR) quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano. Acima disso, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a TR, que está zerada. “Se pegarmos 0,5% ao mês e levarmos a valor futuro daqui a 12 meses, a poupança vai apresentar uma rentabilidade de 6,17%”, disse Rodrigo Beresca, analista de Soluções Financeiras da Ativa Investimentos

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Com o aumento da Selic, os juros ficam mais caros Foto: USP Imagens

Nos cálculos do professor de Finanças da FGV Fabio Gallo, quem depositar R$ 1 mil hoje vai ter uma rentabilidade real negativa equivalente a R$ 43,64 daqui a 12 meses, considerando a inflação estimada. “Todos os investimentos em renda fixa terão retornos reais negativos porque o Banco Central ainda está correndo atrás da curva de inflação”, disse.

Os analistas preveem um ano bem volátil para a renda variável em 2022 por causa das eleições. Além disso, a alta da inflação estará presente tanto por fatores domésticos como internacionais. Não há perspectiva de melhora no câmbio também.

Nesse ambiente, os especialistas recomendam outras aplicações de renda fixa aos investidores que querem fazer proveito da alta da taxa básica de juros. Entre eles, estão especialmente os papéis atrelados a alguma taxa flutuante, como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) ou a Selic, para um prazo mais curto, ou ao IPCA+, para um prazo mais alongado. Já quem quer algo no curtíssimo prazo deve cogitar aplicações isentas de Imposto de Renda.

“É realmente um momento muito interessante para investir na renda fixa”, diz Camilla Dolle, head de renda fixa da XP. Apesar de ressaltar que o melhor investimento vai depender do perfil do investidor, ela aponta que, considerando a alta da Selic, o investimento mais indicado continua sendo nos títulos pós-fixados atrelados ao CDI, que acompanha o movimento da Selic. 

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Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, concorda:“No cenário em que estamos, já percebemos um fluxo maior para a renda fixa, e a renda variável perdendo um pouco de aplicações.”

A expectativa do mercado é de que a taxa básica de juros continue aumentando até o primeiro semestre de 2022, atingindo 11% ao ano. Depois, segundo especialistas, deve estacionar e pode até, em um cenário econômico mais otimista, começar a cair. Investimentos prefixados passam a ser mais interessantes em um cenário de queda de juros. 

“Os pós-fixados estão em um momento legal porque vão acompanhar essa alta esperada da Selic, que deve continuar até 2022. Também são investimentos mais conservadores, que oscilam menos ao longo do ciclo de mercado. Para quem quer se proteger de oscilações também no ano que vem, por exemplo, que é ano eleitoral, é uma boa opção”, afirma Camilla Dolle, da XP. “Mesmo que o Banco Central comece a cortar os juros, seja no ano que vem ou em 2023,a Selic vai continuar elevada ainda por um tempo, então o pós-fixado é uma boa opção.” 

Outra recomendação dos especialistas é investir em títulos indexados à inflação, que usam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses papéis oferecem uma proteção contra a inflação para o investidor, desde que ele mantenha o papel até o prazo de vencimento. 

“Um título indexado à inflação promete que, caso você leve até o vencimento, você terá essa proteção contra a inflação, mantendo seu poder de compra”, diz João Beck, economista e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. “No entanto, se resgatar antes do vencimento, você pode sair pior do que entrou, em alguns casos até com rendimento negativo”, diz. 

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“Considerando o cenário que nós esperamos, de que a Selic chegue a dois dígitos até o meio do ano que vem e pare de subir, esses títulos, que geralmente têm prazos de vencimento de dois, três ou quatro anos, começam a se valorizar. Então são bons investimentos”, acrescenta. 

Caso o investidor queira aplicar o dinheiro por menos de um ano, é preciso também optar por produtos que não pagam Imposto de Renda, segundo Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “Porque sairia muito caro pagar o imposto nesses casos. Teria que procurar títulos isentos, como LCI e LCA.”

Renda variável 

As projeções de que a B3 fecharia o ano no nível dos 130 mil pontos não se concretizaram. A Bolsa acumula perdas de 9,32% em 2021 e de 5,16% em 12 meses. Na terça-feira, 7, o Ibovespa encerrou o dia em 107,5 mil pontos, alta de 0,65%. “A gente teve uma deterioração das expectativas na Bolsa principalmente no segundo semestre. Tivemos a crise hídrica e o rompimento do teto de gastos”, afirma Beck, da BRA. 

“Os balanços das empresas estão, de forma geral, robustos. Eles não estão caindo tanto quanto o preço de cada ação. Algumas blue chips (empresas grandes e sólidas) caíram bastante sem um balanço que justificasse essa queda, algumas estão até faturando mais. Agora, estamos tendo um fluxo positivo de estrangeiro na Bolsa brasileira. E o que está se vendo nos números é a saída do próprio investidor brasileiro, que é o oposto do que aconteceu no ano passado.” 

As perspectivas para o futuro próximo, porém, não são otimistas. É possível que o investidor tenha que viver com certa volatilidade ao longo do ano de 2022 inteiro até começar a ver no horizonte uma certa estabilidade no fim do ano que vem. 

Beresca, da Ativa, acredita que o câmbio não deva se valorizar. “O descontrole fiscal e a PEC dos Precatórios como forma de contornar o teto afetam as finanças domésticas. Além disso, com a retirada de estímulos do Federal Reserve na economia americana e o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos devem fazer com que estrangeiros saiam de mercados emergentes e para investir mais lá", diz.

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A carteira mensal recomendada da Nova Futura Investimentos em renda variável aposta na retomada da economia, com ações de bancos, varejo, commodities e rodovias. “Até há uns meses, evitávamos setores elétricos, mas as chuvas provaram ser abundantes, o que melhorou o sistema energético. Ainda existe uma cautela, mas estamos voltando aos poucos”, disse Bruno Tebaldi, analista de Risco da instituição.

Como ficam os investimentos

  • Investimentos isentos de IR:

Poupança - Tem liquidez diária, ou seja, é possível resgatar o dinheiro a qualquer momento, e oferece risco zero para o investidor, mas também, por isso, oferece uma rentabilidade baixa, que não costuma bater nem a inflação.

LCI e LCA - Bons títulos por causa da isenção do IR e cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). As letras têm lastro em ativos imobiliários e ativos agrícolas e são mais seguras que os CRIs e os CRAs, mas, por esse mesmo motivo, podem apresentar um prêmio menor. 

CRI e CRA - Estão com as taxas bem atrativas, porque costumam ser pós-fixadas. Não têm cobertura do FGC. Para não correr riscos desnecessários, deve-se olhar o emissor desses ativos. Se o ranking do emissor for alto, ele pode pagar melhor que LCI e LCA. Mas se o emissor tiver um ranking baixo, existe a possibilidade de calote. São ativos securitizados, ou seja, possuem lastros em outros ativos. 

Por exemplo: se um agricultor quer fazer um financiamento para sua safra, ele contrai uma dívida emitindo um Certificado de Cédulas de Crédito Bancário (CCB) e a vende para um banco. Esse banco pode pegar várias CCBs e as vender para uma securitizadora, que, por sua vez, as “empacota” por meio do CRA e vende para o investidor final. No caso das dívidas imobiliárias, o processo é o mesmo, mas feito por meio do financiamento imobiliário com a Cédula de Crédito Imobiliário (CCI). 

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Debêntures incentivadas - Ótimas opções porque tem pagamentos semestrais dos cupons.

  • Investimentos sem isenção do IR:

CDB: As melhores opções são os atrelados a taxas flutuantes (CDI e IPCA). 

Fundos DI: Ótimas opções porque tendem a seguir a Selic, que ainda está em ciclo de alta. São mais conservadores e têm uma liquidez mais alta, diária. 

Fundos imobiliários: O aumento da taxa de juros impacta o crédito imobiliário, que encarece com a Selic mais alta. Por ora, a melhor opção em fundos imobiliários são os fundos de papel, que investem em papéis de dívida imobiliária.

Fundos multimercado: Bom investimento, porque, como porque investem em diversas estratégias, os gestores conseguem fazer movimentações para se beneficiar conforme o cenário. Os que têm investimento em Bolsa podem não ir muito bem. 

Qual é o melhor investimento na renda fixa

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Dentre os ativos de renda fixa, existem aqueles que são isentos de Imposto de Renda e outros que não. Para comparar em pé de igualdade esses investimentos, existe no mercado financeiro o “gross up”, que consiste em calcular o retorno de um investimento isento ao embutir uma alíquota de Imposto de Renda fictícia. Assim, é possível comparar os itens que anteriormente não seriam comparáveis por causa de suas características distintas. 

Por exemplo: qual investimento é melhor durante o período de 365 dias, uma LCI que rende 94% do CDI e é isenta de Imposto de Renda ou um CDB que rende 115% do CDI no mesmo intervalo, mas em que há uma taxa de IR a ser paga? 

Lembrando que as aplicações seguem uma tabela regressiva do Imposto de Renda. Quem retira o dinheiro aplicado antes de 180 dias paga um imposto de 22,5%. De 181 a 360 dias, a alíquota cai para 20%. De 361 a 720, fica em 17,5%. E, acima de 720 dias, 15%.

A fórmula utilizada para fazer o gross up é a seguinte: Rendimento com gross up = Rendimento bruto/ (1 - Imposto de Renda).

Sempre lembrando em transformar os números em decimais. Basta dividir por 100. 

Por exemplo, para comparar uma LCI que rende 94% do CDI e é isenta de Imposto de Renda com um CDB que rende 115% do CDI (ambos com vencimento daqui a 365 dias).

Rendimento com gross up da LCI = 0,94/ (1 - 0,175)

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Rendimento com gross up da LCI = 1,139 x 100 (para transformar em porcentagem)

Rendimento com gross up da LCI = 113,9% da CDI 

Portanto, nesse caso, mesmo o CDB não sendo isento, ele traz um retorno maior que a LCI. 

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