Banco Central eleva Selic pela sexta vez seguida, e taxa básica de juros vai a 7,75%

Decisão do Copom de elevar a taxa em 1,5 ponto vem na esteira da escalada da inflação e da manobra para romper o teto de gastos; Selic está no maior nível do governo Bolsonaro

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Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
4 min de leitura

SÃO PAULO E BRASÍLIA – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a aumentar o ritmo de subida de juros e elevou a Selic em 1,50 ponto porcentual, de 6,25% para 7,75% ao ano. Com a inflação rodando acima de 10% e em meio à aventura populista do governo que articulou o rompimento do teto de gastos, o colegiado precisou acelerar mais uma vez o passo do aperto monetário – que pode levar inclusive a uma nova recessão em 2022. O próprio BC já admite que a atividade doméstica tem mostrado “evolução ligeiramente abaixo da esperada”.

O movimento desta quarta-feira foi o sexto aumento consecutivo dos juros, após o BC cortar a taxa básica à mínima histórica (2%) em meio à pandemia de covid-19. Nas cinco reuniões anteriores, o BC havia subido a taxa em 0,75 ponto porcentual (p.p.) em três ocasiões e em 1 p.p. nos encontros de agosto e setembro.

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A última vez que o Copom tinha aumentado a Selic em mais de 1 ponto porcentual foi em dezembro de 2002, quando a taxa passou de 22% para 25% na última reunião do governo Fernando Henrique Cardoso. Com a decisão de hoje, a Selic voltou ao maior patamar desde outubro de 2017. Portanto, esse já é o nível mais elevado dos juros básicos da economia no governo Bolsonaro. Quando o presidente chegou ao poder, a taxa Selic estava em 6,50%.

O Copom também já sinalizou que deve fazer um novo ajuste de 1,50 ponto na Selic na próxima reunião, em dezembro. Com isso, a taxa básica de juros encerraria o ano em 9,25% ao ano. 

Banco Central elevou a Selic pela sexta vez seguida, para o maior nível do governo Bolsonaro. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil - 13/4/2020

No comunicado da decisão, o BC foi claro ao destacar que as mudanças nas regras fiscais que foram acordadas pelo governo com o Congresso – com o aval da equipe econômica – pesaram na deterioração das expectativas de inflação, mesmo com os principais indicadores das contas públicas apresentando melhoras nos últimos meses. O colegiado só não foi mais enfático, porque as alterações na forma de cálculo do teto de gastos para acomodar um Auxílio Brasil de R$ 400 em 2022 ainda não foram devidamente aprovadas pelo Congresso Nacional.

“Recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, destacou o Copom.

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Na avaliação da estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, o BC foi “comedido” no comunicado sobre as mudanças propostas no teto de gastos. Para ela, não está claro se o Copom tem a opinião de que o teto ainda não foi quebrado.

“O comunicado do Copom foi seco. Chamou atenção pelo que não disse. O BC tem espaço para ser mais explícito na ata [do Copom], mas pode não ser. Pode tentar ganhar tempo, mantendo uma comunicação mais seca sobre a política fiscal”, disse Pereira, que espera Selic a 9,25% no fim do ano e “em torno” de 11% no término do ciclo de alta de juros.

Com a necessidade de abandonar o “plano de voo” anterior e dar uma resposta ao mercado que cobrava uma atuação mais firme nos juros, o BC admitiu que o novo ritmo de 1,50 p.p. é ainda mais contracionista - quando a taxa de juros reduz a atividade econômica. Enquanto diversos analistas já projetam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) inferior a 1% em 2022, o aperto mais forte vindo do BC poderá levar até mesmo a uma nova retração da atividade.

Inflação

No documento, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário básico, que utiliza câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2021 de 8,5% para 9,5%. No caso de 2022, a expectativa foi de 3,7% para 4,1%. Para 2023, a projeção passou de 3,2% para 3,1%.

A projeção do BC para a inflação já é bem superior ao teto da meta para este ano e ficou ainda mais distante do centro da meta do próximo. O centro da meta para 2021 é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). A estimativa do BC também já se distancia do centro da meta de 2022, que é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%). O parâmetro para 2023 é de inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%).

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Juro real

Com o último movimento de aperto monetário, o Brasil voltou a ter a maior taxa de juros real (descontada a inflação) do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em +5,96% ao ano. Na segunda e terceira posições, aparecem a Rússia (4,77%) e a Turquia (3,46%). A média dos 40 países considerados é de -0,96%. / COLABOROU CÍCERO COTRIM

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