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Sem almoço grátis: Mantega convida, mas empresários pagam a conta

Cada um dos 18 executivos convidados teve que desembolsar R$ 40 para almoçar com o ministro; reunião debateu a tributação no lucro das empresas no exterior

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes , Renata Veríssimo e da Agência Estado
Atualização:

BRASÍLIA - Em tempos de aperto fiscal, o "banquete" oferecido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a 18 executivos de grandes empresas brasileiras foi pago pelos próprios convidados. Cada empresário teve que desembolsar R$ 40,00 para almoçar com Mantega e os seus principais secretários. No cardápio, carne e peixe. E também as complexas negociações em torno da Medida Provisória (MP) 627, que trata de mudanças na tributação no lucro das empresas no exterior em tramitação no Congresso Nacional.

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"A comida estava boa, mas nós pagamos por ela", contou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, um dos poucos empresários que falou com a imprensa ao final da reunião-almoço, que durou mais de quatro horas. Bem-humorado, o presidente da CNI disse que valeu a pena pagar pelo almoço e, rindo, contou que o peixe não foi a sardinha. "Teve peixe e carne. Não teve rabada", disse ele. Mas não serviram vinho e nem refrigerante. "Só água", revelou Andrade. Para ele, a cobrança da conta mostrou uma "gestão eficiente e bem dura". Ele não achou caro. "O preço é esse mesmo. E não foi a quilo", brincou ele, dizendo que comeu pouco porque falou muito no almoço. Sardinha assada numa churrasqueira, montada em frente ao Ministério da Fazenda, foi justamente o prato principal servido por um grupo de manifestantes da Força Sindical. De sobremesa, os manifestantes serviram abacaxi. No protesto, eles criticaram Mantega por oferecer um "banquete" para os poderosos, enquanto o povo ficava com a sardinha. Apesar do bom humor, o presidente da CNI defendeu a necessidade de uma agenda para o Brasil ter um crescimento maior. "Estamos discutindo uma agenda que pode ser positiva para o Brasil esse ano para a gente crescer mais e melhor", afirmou. Segundo ele, não houve nenhum pedido dos empresários ao ministro de medidas de estímulo à economia ou redução da carga tributária. "O que foi discutido foi o custo da burocracia tributária e trabalhista e a falta de logística", informou. No encontro com Mantega, os empresários pressionaram por mudanças na MP. Eles reclamam que a MP promove o aumento da carga tributária. Depois do almoço com os empresários, Mantega seguiu para uma reunião no Palácio do Planalto. Na saída, o ministro evitou comentar detalhes da reunião e disse apenas que tinha sido "muito boa".

Mais diálogo. O presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, disse que Mantega prometeu manter o diálogo com as empresas com atuação no exterior. Segundo o Ministério da Fazenda, haverá uma reunião técnica nos próximos dias para debater o assunto. "Parte dos problemas está sendo resolvida no conjunto da negociação da MP. E, na parte dos problemas que não podem ser resolvidos no conjunto da MP, há o compromisso do governo de continuar se reunindo com grandes companhias que investem no exterior", disse Godoy.

O empresário disse ainda que a principal preocupação das empresas é evitar a bitributação, para impedir que as que pagam tributos no país de origem não sejam tributadas novamente no Brasil. "O governo está aberto para fazer correções a qualquer momento seja nela (na MP) ou em outro momento que se queira fazer", afirmou Godoy.

Energia. O presidente da Abdib informou também que o ministro afirmou que não haverá nenhuma medida intervencionista na área de energia elétrica e que todas as medidas respeitarão a estrutura dos contratos. "Energia é um tema que preocupa a todos. Mas ele não disse quais medidas o governo vai tomar, mas disse que serão respeitadas as regras do jogo e os contratos", afirmou após a reunião.

Godoy contou que Mantega informou, na reunião, que o governo está trabalhando em medidas para normalizar a questão da energia elétrica. No entanto, não informou detalhes sobre essas atuações e a fonte dos recursos.

O empresário disse que o ministro também falou da coerência que o governo vai procurar dar especialmente na política fiscal e restabelecer a confiança do mercado. "Eu acho que esse é o tom geral: que o Brasil tem condições de sustentar o crescimento e que dificilmente alguma empresa de atividade global deixará de vir para o Brasil."

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Diálogo permanente. Godoy disse que é preciso melhorar a confiança e estabelecer um diálogo permanente para que haja coerência nas decisões e que o mercado possa compreender todas as medidas que estão sendo tomadas e melhorar o desempenho da economia. Na avaliação do empresário, o canal de diálogo do governo nunca foi quebrado. "Eu acho que, com a Fazenda, não há nenhum tipo de queixa de obstrução na base do diálogo", disse.

Ele informou também que os empresários continuarão debatendo com o governo temas ligados à área tributária com a extinção do Regime de Transição Tributária (RTT) e as questões envolvidas na globalização das empresas brasileiras. "O ministro disse, em nome da presidente, que há todo interesse do governo que as empresas brasileiras tenham operações internacionais porque isso cria valor para o País. Então, é preciso estar sempre atentos em quais são os elementos que estão bloqueando a perfeita atuação das empresas no exterior", disse.

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