Sem componentes eletrônicos, montadoras priorizam modelos mais caros de veículos

Base dos melhores anos das vendas de automóveis, os carros populares são hoje uma parcela mínima da produção da indústria

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Por Eduardo Laguna
3 min de leitura

A escolha das montadoras de direcionar a pouca disponibilidade de materiais para a produção de automóveis mais caros virou de ponta-cabeça a pirâmide do mercado de veículos novos no Brasil. Base dos melhores anos das vendas de automóveis, os carros populares são hoje uma parcela mínima da produção da indústria, entregando o protagonismo que tiveram no passado a modelos mais caros, em especial os utilitários esportivos.

De acordo com levantamento feito para o Estadão/Broadcast pela consultoria Jato Dynamics, se até três anos atrás 60% dos carros vendidos no País custavam menos R$ 70 mil e 40% mais do que esse valor, hoje a situação se inverteu completamente, com 68% acima e 32% abaixo dessa marca.

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A mudança de portfólio das montadoras vem ocorrendo em intensidade há quatro anos, graças à introdução de tecnologias exigidas por regulação somada à reorientação das montadoras de, ao invés de volume, buscar o reequilíbrio financeiro com produtos voltados ao público que pode pagar por maior conforto, espaço, conectividade, segurança e eficiência dos automóveis.

Em junho, as vendas de veículos voltaram a cair Foto: NIlton Fukuda/Estadão

A pandemia introduziu um novo elemento à equação, por obrigar a indústria a ser ainda mais seletiva no que produzir com um volume menor, e também mais caro, de peças à disposição.

Conforme o estudo da Jato, feito com base nos volumes de janeiro a junho deste ano, carros que custam menos de R$ 50 mil, os mais baratos do mercado e que se resumem a subcompactos, representam agora meros 3% das vendas.

A grande novidade, porém, está na menor densidade do segmento formado por carros de R$ 50 mil a R$ 70 mil, ocupado por grande parte dos modelos de entrada das montadoras após os seguidos reajustes nas tabelas das concessionárias. Hoje, representa 29% das vendas, menos do que os 36% do ano passado.

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É justamente nas duas faixas acima que estão posicionados modelos produzidos em fábricas que pararam por períodos mais prolongados desde o início da crise de abastecimento de peças, agravada nos últimos meses pela falta de componentes eletrônicos no mundo inteiro. Entre elas, a fábrica do Onix - em tempos normais, o modelo mais popular do Brasil -, que está parada desde março.

Neste mês, foi interrompida, por alguns dias ao mesmo tempo, a produção tanto do Gol quanto do HB20 em fábricas da Volkswagen e da Hyundai, no interior paulista. A Fiat, marca líder em vendas no ano, vem alternando férias a grupos de mil trabalhadores em Betim (MG), onde são montados modelos como Uno e Argo, além do Mobi, o subcompacto que disputa com o Renault Kwid o posto de carro mais barato do Brasil.

"A falta de semicondutores está afetando o segmento de entrada porque o foco da indústria está na rentabilidade. Os preços estão, na média, muito altos", explica o diretor de desenvolvimento de negócios da Jato, Milad Kalume Neto.

O preço médio dos carros vendidos no Brasil gira hoje na faixa de R$ 90 mil a R$ 95 mil. Em 2012, no auge das vendas, os brasileiros compravam carros que custavam em média R$ 63 mil, em valores, estimados pela Bright Consulting, já corrigidos pela inflação acumulada desde aquela época.

Modelos definidos pela Jato Dynamics como carros populares, caso de Onix, Gol, Mobi e Fox, representaram menos de 2% das vendas da indústria nos últimos três meses. Por outro lado, os SUVs, como são conhecidos os utilitários esportivos pela sigla em inglês, responsáveis por 32% das vendas no recorte do segundo trimestre, já formam, junto com as picapes (18%), metade do mercado.

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