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Sem Doha, Lula diz que saída são os acordos bilaterais

Por FERNANDO EXMAN E CARMEN MUNARI
Atualização:

Após o fracasso das negociações da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que o Brasil vai direcionar esforços para realizar acordos bilaterais. "O comércio vai continuar. Vamos continuar com os acordos bilaterais", disse Lula a jornalistas, após almoço com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, no Itamaraty. Segundo Lula, o Brasil deve fechar acordos com a União Européia e negociar com o Sistema de Integração Centro-americano (Sica), bloco comercial da América Central. O presidente ponderou que as negociações sobre Doha podem ser retomadas depois das eleições nos Estados Unidos, em novembro deste ano, e na Índia, onde pode ser convocada mas não tem data definida. As eleições, argumentou Lula, fazem com que os dirigentes evitem tomar medidas antipáticas aos eleitores. "Ainda acho que nós poderemos fazer este acordo. Tem eleições em dois países importantes. Ainda é possível continuar trabalhando este acordo. De forma diferente e com outros interlocutores", afirmou. O presidente disse que sentiu falta de maior flexibilização por parte dos países ricos na mais recente rodada de discussões para a liberalização do comércio mundial, realizada em Genebra, na Suíça, e que fracassou na terça-feira. "Os governantes perderam uma oportinuidade extraordinária de apresentar ao mundo, e sobretudo à parte mais pobre, que nós iríamos garantir que houvesse paz, democracia e não tanta imigração, que as pessoas teriam salário e comida. Para isso, os países ricos tinham que flexibilizar." Declarou ainda que o fracasso se deveu a um problema político e que o acordo está nas mãos dos dirigentes mundiais. "Menos do que econômico, nós tínhamos um problema político na OMC", disse. "Precisa sentar presidentes e primeiros-ministros para tomar uma decisão." Lula desconversou quando perguntado sobre as críticas publicadas na imprensa argentina sobre a postura dos negociadores brasileiros em Genebra, segundo as quais o Itamaraty teria "traído" os países vizinhos ao fazer concessões para fechar o acordo. Ele argumentou que cada governo procura defender os interesses de seu próprio país. "Você acha que eu posso falar de Estado para Estado só porque alguém especulou?", rebateu. Antes da entrevista, o presidente afirmou em discurso também no Itamaraty que espera que os progressos feitos durante as negociações da Rodada de Doha não sejam desperdiçados. "Esperamos que os avanços já alcançados durante as discussões sejam preservados. É o que esperam os países mais pobres, que mais teriam a ganhar com um acordo", afirmou. Lula disse que, apesar da frustração com o fracasso das negociações, o país vai continuar "empenhado na luta para a liberalização do comércio agrícola". As negociações da Rodada de Doha, lançada em 2001 para permitir maior desenvolvimento dos países mais pobres, entraram em colapso na terça-feira depois de nove dias de discussões em Genebra com ministros dos principais países envolvidos. A questão de salvaguardas exigidas por países como Índia e China, que gostariam de uma proteção variável a seus agricultores em momentos de importações de alimentos em maiores volumes, parece ter sido o ponto crítico, depois que temas debatidos por um período muito maior, como os subsídios norte-americanos, foram praticamente resolvidos. Outros participantes da reunião em Genebra, a exemplo de Lula, defenderam uma eventual retomada das conversas de onde elas pararam, aproveitando os documentos apresentados em Genebra, buscando um entendimento. Mas não há previsão para uma nova tentativa de conclusão da Rodada de Doha e vários negociadores acreditam que pode demorar vários anos. (Edição de Marcelo Teixeira)

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