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Sem FMI e com Brasil em crise, Argentina poderia controlar o câmbio

Por Agencia Estado
Atualização:

O persistência das complicações nas negociações com o FMI e a possibilidade de que o acordo não seja obtido poderá levar o governo argentino a adotar novos mecanismos de controle do câmbio. Desta forma, as chances crescentes de um eventual calote com o FMI e também com o Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (Bid) e o Banco Mundial (Bird) aumentam as turbulências nos mercados. Além disso, existe o temor de que a disparada do dólar no Brasil atravesse a fronteira e contagie a Argentina. Fontes do mercado financeiro argentino afirmam que empresas que trabalham no Brasil e na Argentina estão comprando dólares e pressionando a desvalorização das moedas. Por causa deste cenário, intensificam-se os rumores de que o governo do presidente Eduardo Duhalde reforçará os controles cambiais, criando novos mecanismos ou intensificando os já existentes. A possibilidade de controle do câmbio está fazendo as pessoas comprarem dólares e o Banco Central aumentar as intervenções Nesta semana, pela primeira vez, a tendência de crescimento das reservas do BC interrompeu-se. No momento, as reservas possuem US$ 9,327 bilhões. O dólar também está com trajetória de alta e atingiu na semana passada o valor mais alto deste o dia 2 de julho, ultrapassando a faixa dos 3,75 pesos, chegando a 3,76 pesos. O dólar futuro previsto para o dia 31 de outubro passou de 3,84 pesos para 3,96 pesos da quinta à sexta-feira passada. O temor é que o dólar aumente mais ainda a partir da terça-feira, quando os bancos comecem a devolver parte dos depósitos retidos dentro do semi-congelamento de depósitos bancários. Desde o início do ano, quando a moeda argentina foi desvalorizada, depois de uma década de conversibilidade econômica (que estabeleceu a paridade um a um entre o peso e o dólar) o governo Duhalde aplicou uma série de controles cambiais. Segundo o economista Carlos Pérez, da Fundação Capital, um dos mecanismos foi a proibição, aos bancos e as casas de câmbio, de possuírem um volume de dólares equivalente a mais de 5% do patrimônio. Com este mecanismo, o governo pretende evitar que estas entidades financeiras sejam focos de especulação cambial. A idéia é que não passem de intermediários entre a oferta e a demanda de dólares. Além disso, os exportadores, que antes da crise liquidavam as divisas livremente, desde o início do ano possuem uma série de restrições. Em janeiro o governo estipulou que a partir de US$ 1 milhão, as liquidações teriam que ser feitas no Banco Central. A meados do ano, desceu para US$ 500 mil, e atualmente está em US$ 200 mil. Além disso, o Banco Central estabelece que qualquer compra de dólares acima de US$ 100 mil mensais feitas por pessoas jurídicas ou físicas terá que ser feita com autorização do BC. Outra restrição, relativa ao pagamento de dívidas no exterior, foi a de impor um prazo mínimo de três meses para os novos créditos do exterior. Mas, segundo Pérez, os resultados destes controles ?não são lá grande coisa?. O economista afirma que ?a Argentina está tendo um superávit de balança comercial de mais de US$ 1 bilhão por mês, mas as reservas do BC vêm caindo. Ou seja, este superávit comercial, não se transforma em um aumento das reservas do BC. Com certeza também ocorre um maior sub-faturamento de exportações, e muitos exportadores procuram mercados informais, marginais, onde não tenha que se informar ao BC sobre a posse de mais de US$ 100 mil?. Segundo Pérez, ?o controle de câmbios é um paliativo. É muito conjuntural. É como um calmante, mas isso não cura a doença?. Além disso, considera que estes controles não foram os responsáveis pela leve alta das reservas do BC. O economista considera que embora atualmente o mercado informal não seja ?tão significativo, tende a crescer, à medida que aumentem as regulações no mercado cambial?. Outro economista da Fundação Capital, Fabio Rodríguez, afirma que o eventual aumento dos controles dependerá, nesta semana, das negociações com o FMI. ?As especulações negativas indicam o fracasso das negociações. Nesse caso, aparecerá um panorama no qual as reservas terão que ser cuidadas rigorosamente?. Uma das especulações nos mercados é que o governo poderia aumentar o controle nas operações de ações cotadas na Bolsa de Nova York compradas através da Bolsa de Buenos Aires. Graças a estas operações, um volume diário de dólares que saem do país chega ocasionalmente até US$ 50 milhões.

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