PUBLICIDADE

Sem HSBC, cresce a concentração bancária no Brasil

Com venda da filial da instituição britânica, esse índice pode levar o segmento no País a uma situação que preocupa especialistas

Por Josette Goulart
Atualização:

Amanhã as equipes dos grandes bancos privados que atuam no Brasil começam a se debruçar sobre os números da filial brasileira do HSBC, colocada à venda pela matriz britânica. Estarão em jogo bilhões de reais por uma participação pequena de mercado, nem 2,5%, mas que pode determinar um novo patamar de concentração bancária no País e, portanto, de concorrência. 

PUBLICIDADE

Pela primeira vez, um banco estrangeiro poderá ficar colado nos grandes grupos brasileiros. Se tiver cacife para bancar a jogada, o espanhol Santander ganhará escala para competir mais de perto com seus rivais Bradesco e Itaú, que hoje estão muito à frente no mercado. Mas se Bradesco ou Itaú levarem o HSBC, os níveis de concentração ficarão no limite do razoável, de acordo com um índice adotado internacionalmente para avaliar a competição de mercado – o que pode alterar a relação de preços de produtos e serviços dos bancos.

Favorito. As apostas do mercado estão quase todas indo para o Bradesco. Além de ter dinheiro para bancar a aquisição (pode gastar entre R$ 11 bilhões e R$ 15 bilhões, segundo estimativas dos analistas do banco Credit Suisse), o banco tem “muita disposição” para a compra. Alguns ex-executivos do Bradesco chamam essa disposição de “cacoete” pela liderança. “O Bradesco não conseguiu engolir até hoje a união do Itaú com o Unibanco”, diz um ex-executivo, que não quis se identificar.

O HSBC é um dos últimos bancos com tamanho suficiente para deixar o Bradesco perto do Itaú. Mesmo assim, não chegará a empatar em participação de mercado. Pelo lado positivo, segundo o professor do Insper Ricardo Rocha, o Bradesco tem a característica de aproveitar suas aquisições, ou seja, incorpora práticas e culturas, melhora serviços e reaproveita pessoal – o que pode ser bom para os consumidores. 

 

Limite. Pelo lado negativo, a concentração chegará perto do limite. É o que mostra o índice usado para monitorar os níveis de concentração bancária dos países, chamado Herfindahl-Hirschmann (IHH). O economista do Insper e estudioso do assunto, João Manoel Pinho de Mello, diz que quando esse índice ultrapassa o valor de 1.800 nos Estados Unidos, as operações de fusão ou aquisição geralmente não são autorizadas. As autoridades avaliam que a concentração começa a atingir níveis que vão significar preços maiores para os clientes. Segundo Mello, se Bradesco ou Itaú levarem o HSBC, o índice no Brasil, que já ultrapassa 1.600, ficará muito perto desse limite. 

Na prática, para os clientes, ao longo das últimas décadas as opções foram ficando escassas. Quem quer mudar de banco hoje não tem muita escolha. Já para as empresas que tomam crédito, a situação é mais complicada. Quanto maior a concentração, maior a tendência de seus limites de crédito ficarem reduzidos. Dados do Banco Central mostram que os quatro maiores bancos, Caixa, Bradesco, Banco do Brasil e Itaú Unibanco, respondem por 76% do crédito e dos depósitos.

Segundo o consultor e ex-economista-chefe da Federação dos Bancos, Roberto Troster, em 2010, os quatro maiores bancos possuíam 57% do mercado. O problema, segundo Troster, é que a regulamentação bancária acaba restringindo a competição de bancos menores, porque gera custos exorbitantes. 

Publicidade

“Fica difícil competir, porque o custo para ter sistemas eficientes ou mesmo número de agências impede essa concorrência”, diz um importante executivo do setor, que não quis se identificar. “E as empresas que precisam de crédito não podem brigar com esses bancos porque podem ter as portas fechadas. Logo, o Santander pode reequilibrar o jogo.”

O Santander, porém, não conseguiu crescer da forma como se propôs, ao abrir seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo, há cinco anos. Para alguns analistas, o banco tem o problema de manter a cultura espanhola em solo brasileiro. Na Espanha, a concentração de mercado é grande com a predominância de dois bancos: Santander e BBVA.  BC. Segundo fontes ligadas ao Banco Central, não existe preocupação quanto a um aumento de concentração com a compra do HSBC porque o órgão analisa as operações não apenas em seu conjunto, mas também por tipo de produto e geografia. 

Para aprovar uma operação, o BC pode fazer exigências como impedir que a instituição faça novas aquisições ou obrigar que o preço adotado dos produtos seja o do banco comprado. No caso da geografia, esta será uma análise importante, já que há uma grande concentração de clientes do HSBC no sul do País, por causa da origem do Bamerindus, banco comprado pelos britânicos em 1997.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.