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Sem proposta sobre carne e etanol, acordo entre Mercosul e UE fica em risco

Cota de compra sugerida pelos europeus é considerada insuficiente pelos sul-americanos e abaixo da oferecida em 2004, quando o impasse emperrou as negociações

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA – Os europeus não apresentaram sua proposta para o comércio de carne e etanol nesta segunda-feira, 2, no primeiro dia de negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, em Brasília. Esse ponto era considerado o mais importante para a atual rodada, que pretende avançar na definição dos limites para o comércio de bens entre os dois blocos.

Para negociadores sul-americanos, a falta da oferta deixou um sabor amargo logo na largada. A ausência dela pode levar a uma revisão das concessões que o Mercosul está disposto a fazer e comprometer o cronograma de negociações.

Abrafrigo informa em comunicado que, no acumulado do ano, a exportação de carne bovina alcança 694.314 toneladas ante 590.013 toneladas movimentadas em 2018, num crescimento de 18%. A receita cambial subiu de US$ 2,39 bilhões em 2018 para US$ 2,59 bilhões este ano, num aumento de 8%. Foto: Leonardo Soares/AE

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No entanto, segundo essas fontes, ainda é cedo para considerar que houve uma implosão no diálogo. A expectativa é que os europeus formalizem sua proposta ao longo desta semana. Eles disseram aos sul-americanos que a oficialização dos números estava pendente de uma autorização do alto nível da Comissão Europeia.

Não houve, porém, nenhum sinal indicando que a oferta será diferente da que circulou informalmente na semana passada: uma cota de 70.000 toneladas anuais para a compra de carne, sendo metade congelada e a outra metade in natura, e 600.000 toneladas de etanol, sendo dessas 400.000 toneladas para uso industrial.

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Essa oferta é considerada "insuficiente" pelo Mercosul. Isso porque a proposta que havia sobre a mesa em 2004, quando as negociações chegaram a um impasse, era de 100.000 toneladas anuais de carne e 1 milhão de toneladas de etanol. O compromisso assumido pelos dois blocos em 2010 era que as novas ofertas, quando apresentadas, teriam de ser melhores do que as de 2004, para evitar um novo impasse. Não foi o que se viu.

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O fato de não haver a oferta e a sinalização que ela virá pior do que a de 2004 não foram entendidos pelo Mercosul como uma recusa à negociação. A presença de uma grande delegação europeia no Brasil indica que há disposição para o diálogo. No entanto, há dificuldades políticas na abertura do mercado agrícola.

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Fora a parte de acesso a mercados, que é a mais sensível, seguem os entendimentos em outros capítulos do acordo, como por exemplo o que trata de compras governamentais e o de proteção a investimentos. Ao longo do dia, estavam em andamento 11 diferentes negociações.

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A meta é anunciar, em dezembro, o fechamento de um acordo "político", com pontos a detalhar ao longo de 2018. Esse objetivo, porém, ficou ameaçado porque os europeus não completaram sua proposta justamente na parte mais importante do acordo.

O Estado mostrou, em sua edição de sábado, 30, que os europeus estavam profundamente divididos e tinham dificuldade em fechar uma proposta para trazer para o Mercosul. No entanto, a tendência seria mesmo a apresentação da proposta mais conservadora, considerada inviável pelos setores brasileiros de carne e etanol. Esse quadro permaneceu ao longo do dia desta segunda-feira.

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