PUBLICIDADE

Sem visibilidade

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

São mais claros os sinais de que está em curso uma crise no mercado global. Falta entender sua natureza. Ontem, o Banco Central Europeu (BCE), que atende os 13 países da área do euro, fez uma transfusão de emergência de US$ 131 bilhões na veia do mercado para reverter a ameaça de colapso do crédito. Foi o dobro do volume injetado pelo BCE em 12 de setembro de 2001, após o ataque terrorista às torres de Nova York. Esta não deve ter sido uma operação isolada. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) liberou outros US$ 24 bilhões e o Banco Central do Canadá mostrou que, se preciso, também intervirá. O mercado levou um choque quando o maior banco da França, o BNP Paribas, suspendeu os resgates dos cotistas de três dos seus fundos porque, argumentou, já não há condições de saber quanto valem os ativos que lastreiam os títulos. Se uma instituição do porte do BNP Paribas já não sabe medir risco, também não sabe que garantias exigir. E, sem noção de risco e garantia, fica difícil operar carteiras de crédito, o sangue da produção. Enfim, podemos estar diante de uma crise mais profunda do que simplesmente uma paralisação do segmento de crédito de alto risco, o subprime. O gráfico mostra o que está havendo com a remuneração do mais importante ativo financeiro do mundo, as Notas do Tesouro dos Estados Unidos de 10 anos (T-Notes-10). Quando o aplicador foge do risco, como ontem, compra T-Notes. E quando cresce a procura por T-Notes, seu preço aumenta. Como os juros são fixos, o retorno (yield) em relação ao capital aplicado fica mais baixo. Ontem caiu 1,9% em relação ao fechamento do dia anterior. A pronta intervenção dos bancos centrais mostra que as autoridades monetárias estão dispostas a apagar incêndios se o movimento de destruição do crédito (credit crunch) se aprofundar. É o dado alentador a considerar. A intervenção dos bancos centrais levanta outras questões. A primeira é saber até que ponto as autoridades tinham noção da extensão do problema. Na terça-feira, o Fed emitiu comunicado ao expor sua definição sobre os juros em que disse que nada de errado há na economia real. Esse discurso parece incompreensível diante das proporções da intervenção de ontem. Se o crédito está comprometido, como deixou claro o BNP Paribas, fica difícil entender como o setor produtivo continuará intacto. E, se nem os bancos centrais têm clareza sobre a extensão da crise, o mercado fica sem referências. Além disso, se o BCE entendeu que é preciso desapertar os cintos, isso significa que o atual volume de dinheiro (agregados monetários) ficou insuficiente para as necessidades da economia. Nada indica que a saúde do sistema bancário global tenha sido atingida. Por enquanto, a crise parece circunscrita. Mas só o tempo vai nos dizer se este é apenas um ajuste (e não uma crise séria) e se a atuação dos bancos centrais reverterá o problema.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.