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Semana decisiva para Duhalde; BC intervém no câmbio

Por Agencia Estado
Atualização:

Fontes da Casa Rosada admitem que esta semana será decisiva para o futuro do governo do presidente Eduardo Duhalde. A partir de hoje, os esforços estarão concentrados em dois focos: a negociação com o Congresso argentino para aprovar as leis de Subversão Econômica e de Falências e Concordatas; e a assinatura dos acordos bilaterais com as províncias para que estas cumpram o compromisso de redução do déficit fiscal. O próprio presidente decidiu arregaçar as mangas e negociar pessoalmente com o Congresso que está endurecido em relação à lei de Subversão Econômica. Hoje, às 12:30, Eduardo Duhalde receberá os principais líderes das bancadas no Senado e na Câmara. Também hoje, há a previsão de que o BC intervenha forte no câmbio. O presidente corre contra o relógio porque sem estas duas leis e a ratificação do compromisso dos governadores de reduzir o déficit, o Fundo Monetário Internacional não avançará nas negociações com vistas a um acordo, o qual permitirá a liberação de US$ 9 bilhões que o governo usará para não entrar em default com os organismos multilaterais de crédito, como o próprio FMI. O governo tenta fazer com que as comissões de Legislação Geral e de Orçamento encaminhem as leis de Subversão Econômica ao plenário da Câmara amanhã. Se conseguir, a matéria poderá ser votada na quarta-feira, mas para ser aprovada são necessários dois terços dos deputados. Já a lei de Falências e Concordatas, que se encontra no Senado, está praticamente negociada e deverá ser votada também na quarta-feira. Para isso, o governo teve de abrir mão do indexador de contratos CER (Coeficiente de Estabilização de Referência) para corrigir dívidas da casa própria, hipotecas e créditos pessoais. O presidente deverá assinar, hoje, um decreto que isenta estes devedores do uso do CER, o qual deverá ser referendado pelo Congresso, assim como o Plano Bonex II que prevê a troca dos depósitos por títulos públicos. Já está definido que a medida sairá por decreto com a aprovação do Congresso. Ambos referendos deverão ocorrer na quinta-feira, conforme programação do governo, o que indica que o polêmico plano deverá ser definido até a próxima quarta-feira. O Bonex II consistiria em quatro bônus diferentes para trocar os prazos fixos em dólares que foram pesificados a 1,40, os prazos fixos em pesos, as contas correntes e as poupanças. O primeiro teria o prazo de 10 anos com taxa libor, amortização anual de capital a partir do terceiro ano e serviria para pagar créditos pessoais, hipotecas, casa própria e outros. O segundo seria a um prazo de cinco anos, atualizado pelo CER, juros anuais de 7% e amortização a partir do segundo ao. Para as contas correntes e poupanças, a equipe econômica estuda a criação de um bônus a cinco anos, em dólares pesificado a 1,40, e de um a três anos para as pessoas maiores de 75 anos, doentes, ou aquelas que tiveram suas indenizações ou fundos de acidentes trabalhistas retidos pelo "corralito". Intervenção forte no mercado de câmbio O Banco Central deverá intervir fortemente no mercado de câmbio a partir de hoje para impedir uma nova disparada do dólar, conforme fontes da equipe econômica. O governo está preocupado com o aumento do dólar que fechou em 3,20 pesos para a venda e 3,10 pesos para a compra, na última sexta-feira. No paralelo, a moeda atingiu novamente a casa dos 3,30 pesos mas acabou fechando em 3,25 pesos. A disparada do dólar foi provocada pela demora do Congresso em começar a discutir as leis exigidas pelo FMI e pelas dificuldades que o presidente Eduardo Duhalde teve para armar seu novo gabinete. Ambos os fatos foram interpretados pelo mercado como fragilidade política. A preocupação exacerbada do governo com o aumento do dólar se deve ao temor de uma hiperinflação. Os constantes reajustes dos preços estarão refletidos hoje nos números que serão divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC). A inflação de abril não ficará abaixo de 10% e há o temor de que possa estar acima deste porcentual. O quadrimestre deverá ficar com uma inflação acumulada de 20% e ninguém mais fala da projeção do governo para uma inflação anual de apenas 15%, como prevê o orçamento de 2002. A equipe econômica sabe que se o dólar não baixar, os preços também não interromperão a tendência de alta. Os operadores, por sua vez, afirmam que se nesta semana não houver um gesto concreto do Congresso para aprovar as leis que permitirão um acordo com o FMI, o dólar ficará descontrolado. Há outro fato que joga contra o governo, os assalariados acabam de receber seus salários, o que provocará uma demanda maior em busca de dólares com o pouco que eles conseguirem economizar. "A procura será maior mas por montantes pequenos, entre 100 pesos a 400 pesos", disse um operador completando que apesar disso, a quantidade de pessoas é grande e provocará filas igualmente grandes nas casas de câmbio e bancos. Os analistas não acreditam que o governo possa impedir uma disparada do dólar, já que este "é um assunto político, não técnico , porque o que se percebe é um governo débil que não consegue nem mesmo armar seu gabinete como gostaria Duhalde (Eduardo Duhalde, presidente) ", opinou o ex-vice-ministro de Economia, Orlando Ferreres. Para outros, como o economista chefe da Fiel- Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas, Juan Luis Bour, falta definição sobre a política cambial e os rumos que o governo pretende tomar. "Depois de todo este tempo, quatro meses de desvalorização, ainda faltam direções sobre as políticas cambial, monetária, financeira, econômica e este é o grande problema", afirmou Bour. Leia o especial

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