Publicidade

Semana mais curta com feriado tem Copom e IPCA

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast) e FLAVIO LEONEL E RENATO MARTINS
Atualização:

A semana mais curta, por causa do feriado do Dia da Proclamação da Independência na sexta-feira (7), será extremamente forte em eventos e anúncios de indicadores econômicos. Será anunciada, de segunda a quinta-feira, uma grande lista de indicadores que vão de inflação à taxa básica de juros, passando por atividade. A jóia da coroa, como não poderia deixar de ser, será a 129ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, na quarta-feira (5), para deliberar sobre o novo nível de juros que servirá de referência para a economia brasileira até o próximo encontro do colegiado, em 16 e 17 de outubro. Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil (Selic) está em 11,50% ao ano e vem de duas reduções consecutivas de 0,50 ponto porcentual. O que há de tão especial neste encontro dos diretores do BC em setembro é que dele sairá a taxa básica de juros condizente com uma decisão tomada em meio a um cenário de instabilidade na economia internacional e de um aumento da inflação interna, derivada de reajustes de preços agrícolas, mas que já responde aos impulsos de uma demanda provocada pela elevação da renda do consumidor e expansão do crédito. Os analistas do mercado já dão como certo que o board do BC deverá reduzir o ritmo do afrouxamento monetário, iniciado em setembro de 2005, de 0,50 ponto porcentual para 0,25 ponto. Além da simples desaceleração da velocidade de corte de juros, aos olhos dos agentes do mercado, este Copom será envolvido por uma esfera de preocupações e avaliações que poderá determinar o curso da política monetária para um período mais longo. Neste contexto, as previsões para uma redução da taxa de juros para abaixo de dois dígitos, já em meados do próximo ano, passaram a dar lugar às projeções para taxas inferiores a 10,00% para mais adiante. O calendário de divulgações começa na segunda-feira (3), quando o Banco Central divulgará o Relatório de Mercado, mais conhecido como Pesquisa Focus. O documento traz as medianas das previsões feitas pelos analistas de um grupo de cerca de 80 instituições financeiras. Trata-se também de um evento bastante esperado pelo mercado, já que, no documento, será observado o que a comunidade econômica espera que vá acontecer com a economia interna depois da turbulência nos mercados em todo o mundo e do repique da inflação medida pelos IPCA-15 e IGP-M de agosto. O primeiro fechou em alta de 0,42%, acima das previsões, e o segundo em 0,98%, consolidando-se na maior alta desde agosto de 2004, e também acima das estimativas para o período. No mesmo dia, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) informará o resultado da balança comercial ao longo de agosto. No mês passado, o saldo entre as exportações e as importações nacionais foi de um superávit de US$ 3,347 bilhões. Este valor mostrou uma queda de 12,29% na comparação com os US$ 3,816 bilhões em divisas que as transações comerciais com o exterior fizeram ingressar na conta corrente do balanço de pagamentos do Brasil em junho. As exportações, de junho para julho, cresceram 7,63% em valores, de US$ 13,119 bilhões para US$ 14,120 bilhões. Na mesma comparação, as importações elevaram-se em 15,80%, passando de US$ 9,303 bilhões em junho para US$ 10,773 bilhões. Essa taxa de crescimento das importações superior à das exportações de junho para julho explica em grande medida o recuo do superávit comercial no confronto dos dois meses. O dólar, no mesmo período, sofreu uma queda de 0,24% ante o real, de R$ 1,929 para R$ 1,882. Já de julho para agosto até o dia 30, quando a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 1,975, houve um aumento de 4,94%. Ainda na segunda-feira, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) vai anunciar a taxa de inflação apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) de agosto. No mês passado a média de alta dos preços, segundo este índice, foi de 0,28%, bem menor que a alta de 0,42% registrada em junho. Mas na primeira quadrissemana de agosto, a taxa já havia subido para 0,34%, voltou a 0,42% na segunda coleta de preços de agosto e repetiu o porcentual na terceira quadrissemana. O que levou o IPC-S a fechar com uma taxa menor em julho comparativamente a junho foi o alívio dado pela redução da tarifa de energia elétrica e dos combustíveis por causa da safra de álcool no período. Como o IPC-S capta as variações dos preços administrados pelo critério de competência, a redução da conta de luz em julho foi capturada dentro do próprio mês. Passado o impacto, as taxas quadrissemanais do índice passaram a subir. Isso porque, sem o alívio das tarifas de energia, os preços dos alimentos em processo de alta passaram a ditar, praticamente sozinhos, a direção dos indicadores de preços ao consumidor. Também no início da semana, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulga sua pesquisa Indicadores Industriais referente ao mês de julho. Serão divulgados dados setoriais sobre a venda real das indústrias, horas trabalhadas na produção, pessoal empregado e remuneração paga. Ainda no campo da atividade, o IBGE divulgará, na terça-feira (4), os resultados da produção industrial em julho. Os números da indústria no mês passado ganham mais peso do que o normal porque a sua divulgação será antes da primeira parte da reunião do Copom. Ou seja, quando os diretores do BC se reunirem no meio da tarde de terça-feira na primeira parte do encontro de dois dias do comitê, eles e o mercado já terão em mãos o desempenho da produção industrial. Vale lembrar que a preocupação da autoridade monetária com a atividade e, em especial, com o descompasso das vendas do comércio varejista e a produção industrial vem sendo quase que uma constância em todos os documentos divulgados pelo BC. Em alguns momentos ao longo deste ano, a preocupação da autoridade monetária com o estreitamento do hiato do produto, que indica a diferença entre nível de produção e seu limite presumido, ganhou mais vulto do que as expectativas e a própria variação da inflação corrente. Esta preocupação atual com o fechamento do hiato já havia sido enfatizada pelo BC anteriormente, especialmente no período marcado pelas sucessivas elevações de juros, em dezembro de 2004. De setembro de 2005 para cá, no entanto, a autoridade monetária iniciou um processo contínuo de redução da Selic. Durante todo este tempo - a Selic no período caiu 8,25 pontos porcentuais, de 19,75% para atuais 11,50% -, o BC vem imputando nos seus documentos indicações de que em algum momento teria que reduzir a velocidade de corte de juros por causa do crescimento da economia à frente da capacidade da indústria de ofertar. Em junho, a produção industrial cresceu 6,60% na comparação com igual mês em 2006, enquanto as vendas do comércio varejista registraram avanço de 11,80% na mesma comparação. Dada esta defasagem entre comércio e indústria, com o advento da crise na economia mundial originada no mercado de derivativos da dívida imobiliária norte-americana, os chamados papéis subprime e do repique inflacionário este mês, os analistas do mercado acreditam que o momento de o BC reduzir a magnitude das taxas de afrouxamento monetário chegou. Na quarta-feira (5), além do Copom, a agenda de divulgações reserva espaço para dois indicadores de inflação. No primeiro, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) informará a taxa de inflação apurada ao longo de agosto na capital paulista. Este indicador, por captar as influências dos preços administrados pelo critério de caixa (a partir do momento que o consumidor recebe a sua conta em casa para pagar), caminhou, em agosto, na direção contrária dos indicadores de preços do IBGE e da FGV. Tem mostrado taxas menores que os demais indicadores de preços ao consumidor porque só agora está registrando a redução da tarifa de energia elétrica no município, anunciada no início de julho. Mas na ponta de alta, os alimentos têm subido consideravelmente como os demais índices têm mostrado. O outro indicador de preços que será conhecido na quarta-feira será o IGP-DI de agosto, calculado pela FGV. Como parte do período de coleta de preços deste indicador coincide com a do IGP-M, é provável que a inflação no âmbito deste índice venha acima da taxa de 0,37% em julho. O IGP-M fechou agosto em alta de 0,98%, a maior para o mês desde 2004. A alta foi detonada pelo aumento de 4,00% dos preços agrícolas no atacado. Na quinta-feira (6), um dia após a decisão do Copom, o IBGE anuncia o IPCA de agosto. Livre do alívio proporcionado pela redução das tarifas de energia elétrica em algumas das capitais em que o instituto faz a sua tomada de preços, o IPCA de agosto também deverá mostrar uma taxa de inflação superior à de 0,24% em julho. O IPCA-15 deste mês, com alta de 0,42% é um prenúncio de que o índice fechado será mais vigoroso. A mediana das expectativas dos analistas do mercado para a inflação de agosto por este indicador subiu na Focus desta semana de 0,25% para 0,34%, uma variação de 0,09 ponto porcentual. Outro indicador do dia é o custo da construção civil nacional. O Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índice da Construção Civil (Sinapi) é calculado pelo IBGE . A Associação Nacional dos fabricantes de Veículos Automotores também divulga na véspera do feriado seus dados de produção, vendas internas e exportações referentes a agosto. As estatísticas de vendas terão uma espécie de prévia na terça-feira, com a divulgação dos números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). EUA e Europa Os Estados Unidos também têm um feriado na semana, o Dia do Trabalho, na segunda-feira. Mas o restante da semana está recheado de fortes indicadores, de atividade, vendas varejistas, construção civil e de mão-de-obra. O principal dado sai na sexta-feira, com a divulgação pelo Departamento do Trabalho do nível de emprego (payroll) em agosto. Economistas prevêem que tenham sido criados 130 mil empregos no período. Antes disso, na terça-feira, será conhecido o indicador de gastos (investimentos) no setor de construção em julho. Na quarta, sai um dado que tem sido muito acompanhado pelos economistas, o desempenho do setor de hipotecas residenciais na semana até 31 de agosto, calculado pela Mortgage Bankers Association (MBA). Outros indicadores fortes são o desempenho do comércio varejista na semana até 1º de setembro (LJR Redbook), na terça-feira, e as vendas pendentes de imóveis em julho, no mesmo dia. Na quinta-feira, o Departamento de Energia (DoE) e o American Petroleum Institute (API, do setor privado) divulgam suas estimativas sobre o nível dos estoques de petróleo e derivados na semana até 31 de agosto. Na sexta, além do citado payroll, saem os dados de estoques e vendas no atacado em julho, calculados pelo Departamento do Comércio. As reuniões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE) serão os eventos de destaque na próxima semana na Europa. O Comitê de Política Monetária do BoE encerra sua reunião de dois dias na quinta-feira, devendo anunciar a decisão sobre taxas de juro às 8h (horário de Brasília) e a expectativa do mercado é de que a taxa básica seja mantida inalterada em 5,75%. O Conselho do BCE também se reúne na quinta-feira, devendo anunciar sua decisão de política monetária às 8h45; com a expectativa do mercado de que a taxa de refinanciamento seja mantida inalterada em 4,00%.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.