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Com crise financeira, agências rebaixam nota de crédito da Turquia

Agência de classificação de risco S&P Global Ratings rebaixou a nota de crédito da Turquia de BB- para B+ e manteve a perspectiva estável; Moody's rebaixou o rating de Ba2 para Ba3 e mudou a perspectiva para negativa

Por Victor Rezende e Nicholas Shores
Atualização:

Em meio à crise financeira da Turquia, agências de classificação de risco rebaixaram a nota de crédito do país nesta sexta-feira, 17A agência S&P Global Ratings rebaixou a nota de crédito da Turquia de BB- para B+ e manteve a perspectiva estável. Já a Moody's rebaixou o rating de Ba2 para Ba3 e mudou a perspectiva para negativa.

Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, a S&P aponta que a extrema volatilidade exibida pela lira nas últimas duas semanas "se segue ao prolongado superaquecimento econômico da Turquia, à alavancagem externa e à deriva das políticas". Para a agência, o enfraquecimento substancial da moeda da Turquia tem implicações fiscais negativas, ao mesmo tempo em que sobrecarrega os balanços das empresas e pressiona ainda mais os bancos turcos. Não por acaso, a agência projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) da Turquia apresentará contração de 0,5% em 2019, antes de apresentar recuperação gradual.

Agência de classificação de risco S&P Global Ratings rebaixou a nota de crédito da Turquia de BB- para B+ Foto: Murat Cetinmuhurdar/Presidential Palace/Handout via REUTERS

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"O rebaixamento reflete nossa expectativa de que a extrema volatilidade da lira turca e o consequente ajuste acentuado do balanço de pagamentos prejudicarão a economia do país", aponta a S&P. Além da contração econômica, a agência credita que a inflação atingirá um pico de 22% nos próximos quatro meses, antes de cair abaixo dos 20% em meados de 2019. Além disso, a S&P afirma que o enfraquecimento da lira está pressionando o setor empresarial turco, que está endividado, e que isso aumentou consideravelmente o risco de financiamento para os bancos do país.

Para a agência, a incerteza política em solo turco "também irá, provavelmente, travar o investimento privado" no país. Ela aponta, ainda, que a perspectiva estável "reflete os riscos equilibrados para nosso rating da Turquia nos próximos 12 meses". A S&P diz que poderia cortar ainda mais os ratings se verificar uma possibilidade crescente de uma crise bancária sistêmica e que tenha o potencial de minar a posição fiscal do país ou se avaliar uma fraqueza ainda maior no crescimento econômico turco.

Moody's cita 'enfraquecimento das instituições públicas' para rebaixar nota da Turquia

A agência de classificação de risco Moody's rebaixou o rating da Turquia de Ba2 para Ba3 e mudou a perspectiva para negativa, explicando que a nota de crédito pior se deve principalmente ao "contínuo enfraquecimento das instituições públicas" do país, exemplificado pelas "preocupações elevadas em torno da independência do banco central e pela ausência de um plano claro e crível para lidar com as causas subjacentes da recente turbulência financeira".

"As condições financeiras mais apertadas e a taxa de câmbio mais fraca, associadas aos altos e crescentes riscos de financiamento externo, provavelmente vão impulsionar ainda mais a inflação e minar o crescimento, e o risco de uma crise de balanço de pagamentos continua aumentando", afirma a agência em comunicado.

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Na nota, a Moody's aponta que, ao passo que os bancos turcos conseguiram até agora manter acesso aos mercados internacionais interbancários para o seu financiamento, as condições financeiras mais apertadas e a lira em enfraquecimento vão elevar ainda mais a pressão sobre credores domésticos com dívida denominada em moeda estrangeira.

Ainda sobre o enfraquecimento institucional, a agência acredita que esse desdobramento sucede "particularmente" a centralização de poderes no nível da Presidência após as eleições em junho, que reelegeram Recep Tayyip Erdogan para o posto. "Desde as eleições, o banco central abdicou de elevar taxas básicas de juros apesar de ter aumentado significativamente suas projeções de inflação para este e o próximo anos. A discrepância entre as projeções de inflação do banco central e suas metas bem como sua indisposição para perseguir uma política monetária apropriada para atingir essas metas minam ainda mais sua credibilidade", comenta a agência.

A redução da taxa do compulsório para os bancos domésticos é vista pela Moody's como uma medida de "curto prazo" que não vai de encontro às pressões subjacentes sobre o setor bancário nem tampouco às crescentes pressões inflacionárias.

Já em relação à mudança da perspectiva do rating da Turquia para negativa, a agência explica que a probabilidade de que as autoridades do país consigam engendrar uma "aterrissagem suave" para a economia está diminuindo no contexto de instituições enfraquecidas e tensões crescentes com os EUA. "Portanto, o risco da continuação de estresse financeiro é significativo, com, potencialmente, novas implicações negativas para bancos e empresas turcos que têm grandes necessidades de financiamento externo."

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