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Crônicas, seguros e um pouco de tudo

Opinião|Sequência de classe

Silva desesperou, largou-se num banco, entregou os pontos e chorou. Sem malas e sem carro para ir ao hotel, pensou no que poderia ter feito para evitar tanta desgraça

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Atualização:

Todos os personagens, localidades e eventos deste texto são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas, locais e fatos acontecidos é mera coincidência ou, como diz meu amigo, “a vida imita a arte”.

Apenas policiais federais estão liberados da inspeçãode raio-X Foto: Werther Santana|Estadão

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Silva João da Silva e Silva decidiu viajar nos feriados de carnaval. Pessoa experiente, com vasta quilometragem de vida, decidiu fazer tudo ao contrário e assim encontrar paz no contra fluxo da vida. 

Com prática em viagens, reservou a passagem de avião para quinta-feira de noite, quando a Marginal não está lotada por causa da saída para o feriado. Em vez de escolher praia ou lugar com tradição em carnaval, reservou um hotel nos cânions gaúchos, longe de qualquer cidade ou local com festa e música alta.

Para ir ao aeroporto chamou um carro de aplicativo de luxo, com bastante antecedência para evitar eventuais atrasos capazes de comprometer seu embarque. Na hora combinada o carro chegou, o simpático motorista carregou sua mala, colocou-a no porta-malas, sentou-se atrás da direção, ofereceu balinhas, ligou o motor e saiu rumo ao aeroporto. 

Começo impecável para uma viagem com tudo para ser impecável. Sacolejando pelas ruas esburacadas, o carro seguiu sem muito trânsito até perto do viaduto “Arrancada Heroica, 1942”, na Água Branca. Lá o trânsito parou. Passaram quinze minutos, meia hora e continuava parado. 

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De repente, da mesma forma como parou, recomeçou a fluir. Silva olhou no relógio. Tinha tempo de sobra para chegar no aeroporto. O motorista pegou a pista expressa e seguiam em boa velocidade quando uma motocicleta, trafegando em faixa proibida, passou do lado do carona e arrancou o espelho retrovisor. 

O motorista xingou, gritou, falou palavrões, mas não adiantou nada. O motoqueiro não parou para ver o estrago. Assim, seguiram em frente até depois do viaduto da Rodovia Presidente Dutra. Aí o carro começou a tremer. O motorista mudou de faixa até parar na faixa da direita, desceu e constatou que o pneu tinha furado.

Trocaram o pneu e, 15 minutos depois, seguiam viagem, rumo ao aeroporto com o horário bem mais apertado e o trânsito mais congestionado.

Depois de muito sofrimento, Silva chegou no terminal de embarque, desceu, olhou no relógio e viu que tinha meia hora. Entrou no terminal e descobriu que estava no terminal errado. Acelerou o passo rumo ao terminal certo e acabou chegando no exato momento em que a companhia fechava o atendimento. Papo foi, papo veio, como o avião não estava lotado, a funcionária aceitou fazer o check-in e despachar a bagagem. Silva respirou aliviado e foi em direção ao portão de embarque. Passou pela revista, dirigiu-se ao portão indicado e sentou-se num banco próximo para aguardar a chamada.

Passou meia hora, uma hora e nada. Silva começou a ficar impaciente. Já devia estar voando e continuava sentado, aguardando o embarque. Então apareceu no luminoso em cima do portão de embarque: “voo cancelado”. E mais nada. Ninguém para dar uma instrução. Exceto o alto-falante do aeroporto, que confirmou o cancelamento.

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Silva é homem de ação. Não esperou nem cinco minutos, decidiu ir atrás de seus direitos. Foi ao balcão da companhia, fez um escarcéu e conseguiu ser colocado no voo seguinte, que saía três horas depois, com uma escala no meio do caminho. Na hora marcada, Silva embarcou. O avião decolou, fez a escala, chegou no aeroporto de destino, Silva desceu e foi retirar sua bagagem. 

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Nova surpresa. Após meia hora de espera, descobriu que sua bagagem não chegou. Mais uma vez ameaçou virar a mesa, exigiu, disse que ia processar, prender o presidente da companhia, etc. e, duas horas depois, descobriu que sua bagagem tinha sido retirada na escala e seguira em outro voo rumo a Manaus.

Silva desesperou. Se largou num banco, entregou os pontos, chorou, xingou o carnaval e, sem malas e sem carro para ir para o hotel, pensou no que poderia ter feito para evitar tanta desgraça.

A única resposta é que boa parte de seus infortúnios não tinham solução, mas alguma coisa poderia ter sido salva se ele tivesse contratado um seguro de viagem. 

Opinião por Antônio Penteado Mendonça
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