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Será preciso mover montanhas

Para sobreviver à crise e não levar consigo o euro, a Itália pós-Berlusconi precisará se unir como em nenhum outro momento de sua história

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Por Redação
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ArtigoA Itália tem uma história de quase 3 mil anos de violentas e custosas tentativas de coesão. Agora, o povo italiano precisa levar sua união a novos níveis, enfrentando junto as dolorosas reformas que devem salvar ou afundar de vez a oitava maior economia do mundo - e o euro, que mantém unida boa parte da Europa.A renúncia do primeiro-ministro Silvio Berlusconi dá ao país a oportunidade de contrariar a própria história. O premiê indicado, Mario Monti, é um respeitado economista formado em Yale cujo apoio a reformas substanciais é um sinal encorajador após 17 anos de governo caótico sob o comando de Berlusconi. Mas há muito que precisará dar certo - num curto espaço de tempo - para que o professor Monti consiga salvar o país.Primeiro, um novo governo italiano precisa inspirar no mercado de obrigações mais confiança na possibilidade de honrar os pagamentos da sua dívida. A Itália precisa de mais de US$ 400 bilhões em financiamento externo para cobrir apenas os gastos para 2012. Roma precisa obter seu financiamento seja do mercado de obrigações ou de resgates por parte de outros governos ou do Fundo Monetário Internacional. A confiança dos mercados pode ser reforçada se o novo governo implementar logo um pacote de cortes orçamentários e reformas aprovado pelo Senado no dia 12 de novembro. Segundo, e mais importante, a Itália precisa alterar de maneira fundamental a sua cultura política. Todos os níveis do governo na Itália - basicamente, o ritmo da própria vida italiana - são altamente organizados e profundamente enraizados. Se os mercados financeiros pressentirem alguma hesitação, eles deixarão de emprestar dinheiro ao governo, e o país será obrigado a declarar uma desastrosa moratória. A Itália teve bastante tempo para quitar sua dívida - antes de a crise europeia de endividamento ter forçado os rumos da situação. Embora o endividamento total seja alto, na casa dos 120% do PIB, o déficit fiscal italiano anual é quase equivalente ao da Alemanha. E a sua economia engloba uma saudável mistura de indústrias e serviços, com um robusto setor de exportações.Por fim, a Itália depende da ajuda de seus parceiros da zona do euro, que devem ajudar a inspirar calma nos mercados financeiros - algo que parece improvável no momento. O novo "fundo de resgate" europeu é pequeno demais para resgatar a Itália. E as regras que regem o euro impedem transferências de países ricos para países em dificuldades. A Itália pode sobreviver à crise se agir de maneira decisiva e se mostrar mais unida que em qualquer outro momento da história. Se fracassar, o euro pode desaparecer, mergulhando a Europa numa recessão e levando consigo boa parte do resto do mundo. / TRADUÇÃO AUGUSTO CALIL

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