Sergio Vale: 'BC está a cada dia mais isolado contra a inflação''; leia análise

Governo insiste em abrir sua caixa de maldades às avessas com a recente discussão sobre a PEC dos Combustíveis

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Por Sergio Vale
2 min de leitura

Desde a quebra da regra do teto de gastos no ano passado, o Banco Central acertadamente começou a acelerar a alta de juros. Com os riscos advindos do descaso fiscal do governo, não restava para um BC isolado fazer o que tem feito. Mas o governo insiste em abrir sua caixa de maldades às avessas com a recente discussão sobre a PEC dos Combustíveis

A sinalização é clara de que o pouco que havia de preocupação fiscal foi-se embora, e cada vez mais isto acontece de mãos dadas entre o presidente e o Congresso. Esperar algum alívio do Ministério da Economia não é possível depois da anuência do que aconteceu no ano passado. Ao sancionar a sanha eleitoral do presidente, Guedes entrou em uma nova armadilha da qual se mostra incapaz de sair, ou mesmo se deseja sair.

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O pouco que havia de preocupação fiscal foi-se embora, e isto acontece de mãos dadas entre o presidente e o Congresso. Foto: Dida Sampaio/Estadão

De qualquer maneira, o recado do BC é de preocupação com um governo emparedado eleitoralmente e que já deu sinais explícitos de que fará o que for possível para tentar agradar ao eleitor. Como tem sido nossa sina, o agrado de curto prazo tem vida curta e o BC sinaliza estar atento à continuidade dos desmandos fiscais que trarão consequências negativas certas.

Nosso dilema é que tais medidas são sinais do que será possível ver nos próximos anos. A atual discussão dos combustíveis seria alegremente encampada em uma eventual volta de Lula ao governo. A tarefa do BC seguirá sendo árdua e, vê-se, cada vez mais isolada: neste governo com certeza, e com grandes chances de no próximo também, caso o cenário eleitoral não mude. Sendo isto verdade, não restará outra opção ao BC que continuar subindo os juros.

A ata indicou, mesmo não explicitamente, que é provável que a Selic vá para mais de 12%. Essa conta tem um peso grande nas costas do próprio governo, mas o aprendizado do que aconteceu no ano passado não ocorreu e, de forma realista, custo a acreditar que acontecerá tão cedo.

*ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS

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