Serviços têm queda de 7,8% em 2020, no pior resultado desde 2012

Apesar de ter avançado 18,9% em seis meses de alta, o volume de serviços prestados ainda está 3,8% abaixo do patamar pré-pandemia; resultado confirma que o setor foi o mais afetado pela covid-19

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Por Vinicius Neder, Gregory Prudenciano e Eduardo Laguna
4 min de leitura

RIO e SÃO PAULO - A queda de 0,2% no volume de serviços prestados em dezembro ante novembro de 2020 quebrou uma sequência de seis meses de retomada, após o pior momento da crise causada pela covid-19, informou nesta quinta-feira, 11, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio dentro do esperado por economistas, confirmando que o setor de serviços, dado seu caráter eminentemente presencial, foi o mais afetado pela pandemia. Em 2020, o setor teve um tombo de 7,8% ante 2019, o pior resultado anual da série histórica do IBGE, iniciada em 2012.

Além disso, os seis meses de alta não foram suficientes para recuperar tudo que o setor de serviços perdeu entre março e maio, auge da pandemia. Diferentemente do que ocorreu com a indústria e o comércio varejista, o nível da atividade de serviços ainda estava em dezembro 3,8% abaixo do patamar registrado em fevereiro de 2020, antes da covid-19 se abater sobre a economia.

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Segundo Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, por causa do caráter presencial da maioria dos serviços, não dá para dissociar a plena recuperação do setor de uma solução para a crise sanitária causada pela pandemia. Apenas a vacinação em massa da população daria a segurança para o pleno funcionamento dos serviços.

“Para além de qualquer medida que governo ou empresas possam adotar, nada vai ser mais importante do que a vacinação em massa da população, para que as pessoas percam o receio de viajar e caiam restrições ao funcionamento dos serviços presenciais”, afirmou Lobo.

Por isso, o recrudescimento da pandemia no fim de 2020, com aumento do número de casos e mortes por covid-19, poderá ser mais um “limitador” da retomada do setor, disse o pesquisador. Segundo Lobo, ainda não é possível relacionar o recuo de 0,2% no volume de serviços prestados em dezembro ante novembro com esse recrudescimento. Será preciso observar os dados de janeiro e fevereiro para verificar esse efeito.

As atividades de serviços mais dependentes do contato pessoal são as que estão mais longe de recuperar tudo o que perderam no auge da pandemia e também as que registraram os piores desempenhos em 2020. Os serviços prestados às famílias - incluem restaurantes, hotéis, salões de beleza, lazer etc. - fecharam o ano passado com tombo de 35,6%, o maior da história. Com a queda de 3,6% em dezembro ante novembro, ainda estão 28,2% abaixo do nível de atividade de fevereiro de 2020, antes da pandemia.

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Outra atividade que sofreu em 2020 foram os transportes, com destaque para o transporte de passageiros - também atingidos diretamente pelas restrições aos contatos sociais. Os serviços de transporte, como um todo, encolheram 7,7% em 2020. O transporte aéreo tombou 36,9% ante 2019. Em dezembro ante novembro, houve uma queda de 0,7% e o nível dessa atividade ainda está 6,8% abaixo do que estava antes da covid-19.

“A queda de serviços já era esperada. Os números da pandemia estavam aumentando em dezembro, o que alimentou a discussão sobre maiores restrições à circulação, lockdown, afetando um setor que depende muito da circulação e da presença das pessoas no consumo”, afirmou o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini.

Serviços ligados as atividades presenciais, que mais sentiram o impacto das medidas isolamento, puxaram resultado negativo em 2020. Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 6/7/2020

Como em torno de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) são gerados pelo setor de serviços, as dificuldades com a retomada dessas atividades mostra como a pandemia ainda afeta a recuperação plena da economia. Segundo economistas, o ritmo lento dos serviços acaba prevalecendo sobre a rápida recuperação, entre maio e outubro, ainda em meio à pandemia, da indústria e do varejo. Ao lado do baque nas vendas do varejo em dezembro, confirma a desaceleração da economia como um todo na virada de 2020 para 2021. 

“Os dados relativos a dezembro mostraram que todo mundo desacelerou já no fim do ano. O PIB do primeiro trimestre certamente vai ter contração pelo fim do auxílio emergencial, pelo cenário fiscal contracionista e pela pandemia impondo novas restrições”, disse o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira.

Nas contas de Agostini, da Austin Rating, o desempenho do setor de serviços em 2020 condiz com um recuo de 4,2% no PIB do ano passado. Na LCA Consultores, o movimento de desaceleração da economia no fim de 2020, sob impacto do recrudescimento da pandemia e do fim dos auxílios, deverá levar a revisões para baixo nas projeções de crescimento para 2021, disse Lucas Rocca, economista da consultoria.

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“A dinâmica para o setor de serviços que observamos desde a segunda metade do ano passado permanece a mesma, com heterogeneidade da recuperação dentro do segmento e uma figura geral de forte queda no ano. Serviços agora se consolida como setor mais afetado pela pandemia”, afirmou Rocca.

A heterogeneidade na recuperação das diferentes atividades investigadas pela PMS do IBGE é uma das marcas da desorganização que a pandemia levou à economia. Apesar da crise, algumas atividades saíram ganhando.

Os serviços de informação e comunicação fecharam 2020 com recuo de apenas 1,6% ante 2019. Integrante dessa atividade, os serviços de tecnologia da informação fecharam na contramão, com alta de 8,3% ano passado. Com a demanda impulsionada pelo aumento do trabalho remoto e com as pessoas ficando mais em casa em meio à pandemia, os serviços de TI não só se recuperaram da queda verifica em março e abril como atingiram o nível mais alto de atividade da história.

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