
09 de fevereiro de 2017 | 15h55
RIO - O Rio viveu uma quinta-feira de alta tensão dentro e fora da Assembleia Legislativa (Alerj). A decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) de cassar o mandato do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) serviu de combustível para acirrar a disputa entre oposição e base governista dentro da Assembleia.
Apesar disso, foi iniciada às 19 horas a discussão da privatização da estatal de águas e esgoto Cedae, primeira medida de ajuste exigida pelo governo federal como contrapartida ao plano de recuperação fiscal do Estado. A previsão é que ela seja votada na próxima terça-feira.
Nas ruas, o confronto entre policiais militares e manifestantes que protestavam em frente à Alerj durou cerca de três horas e gerou caos. Após cinco horas de protesto pacífico, manifestantes e policiais militares entraram em confronto e transformaram o centro da cidade em praça de guerra. Por volta das 15h30, o barulho de bombas começou a ser ouvido no plenário da Assembleia. No saguão, funcionários do departamento médico passaram a distribuir máscaras cirúrgicas para deputados, assessores e jornalistas.
Manifestantes soltaram fogos de artifício, ao que os PMs responderam de imediato com bombas de gás lacrimogêneo, dando início a uma correria que tomou conta de vias de grande circulação de pessoas e veículos. Entre os manifestantes, havia mascarados aparentemente sem relação com o movimento dos servidores estaduais, que protestavam pacificamente contra a venda da Cedae e as medidas de austeridade propostas pelo governo estadual para estancar a crise.
A situação saiu do controle. Uma agência bancária foi atingida por um coquetel molotov, dando início a um princípio de incêndio, logo controlado. Outro banco foi apedrejado. Jovens encapuzados atearam fogo a um sofá, retirado de um escritório. Um homem identificado pela secretaria municipal de Saúde como Carlos Henrique Senna foi baleado e levado para o Hospital Souza Aguiar, onde foi encaminhado para a cirurgia.
No fim do dia, o presidente da Assembleia, Jorge Picciani, anunciou que convocará sessão extraordinária na próxima terça-feira, às 10 horas, para levar à votação o projeto de lei que autoriza a privatização da Cedae. A companhia servirá como garantia para até R$ 3,5 bilhões em novos empréstimos com aval da União, uma exigência do governo federal para levar à frente o plano de recuperação fiscal, assinado pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e pelo presidente Michel Temer no fim do mês passado.
“É a única possibilidade que o Estado tem de colocar os salários dos servidores em dia. Não tem outra matéria a ser discutida rapidamente. A única é essa”, completou Picciani, mencionando a grave situação do Espírito Santo e do sistema prisional em outros estados.
Picciani negou que a urgência na tramitação do pacote de ajuste tenha a ver com a audiência de conciliação marcada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação em que o Rio pede a antecipação dos efeitos do plano de socorro previamente assinado com o governo federal. O pedido enfrenta resistência da Procuradoria-Geral da República (PGR), da Advocacia -Geral da União, do Banco do Brasil e da Caixa.
Ao Estado, Pezão disse estar “muito esperançoso” de conseguir a antecipação e descartou a possibilidade de não sair o acordo com o governo federal. “Estou confiando que vai ser aprovado, já que assinamos eu, o presidente Michel Temer e o ministro Henrique Meirelles. Eu só estou tentando antecipar o acordo”, afirmou.
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