RIO - Sete em cada dez micro e pequenas indústrias de São Paulo tiveram aumento significativo nos custos de produção em fevereiro, segundo levantamento do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi) antecipado com exclusividade para o Broadcast/Estadão. Mais de 90% dos empresários se queixaram do encarecimento de insumos.
Além das matérias-primas, houve elevações nas despesas com mão de obra e salários, transporte e logística. Em março do ano passado, quando a crise sanitária começava a se agravar no Brasil, apenas 31% da categoria percebia alta de custos, de acordo com o Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, encomendado pelo Simpi ao Datafolha.
“A causa raiz foi a quebra da cadeia produtiva na pandemia: 35% dos empresários perderam algum fornecedor por recuperação judicial ou falência, e 42% perderam algum cliente por recuperação judicial ou falência”, justificou Joseph Couri, presidente do Simpi, que também apontou dificuldades na obtenção de insumos, acesso ao crédito e redução na demanda.
A pesquisa do Simpi mostra que os pequenos e micro empresários industriais têm relatado quatro tipos de problemas no acesso a insumos: preços altos, prazo longo para entrega, baixa qualidade e desabastecimento.
De acordo com a pesquisa, 93% das micro e pequenas indústrias apontam a alta de preços de insumos como maior entrave à produção, e 68% reclamaram de falta matéria-prima nos fornecedores. Outros 68% registraram atraso em entregas, e 31% relataram queda na qualidade do material fornecido.
As matérias-primas brutas já estavam 70,13% mais caras em março deste ano em relação ao patamar de preços de um ano antes, segundo a inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo André Braz, coordenador de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), o avanços nos preços tem sido impulsionado por uma combinação de valorização de commodities no mercado internacional e de alta do dólar em relação ao real.
“Isso vai acabar indo sem dúvida nenhuma para a ponta, para os preços aos consumidores”, lamentou Joseph Couri.
Em meio a um cenário de recrudescimento da pandemia de covid-19, atividade econômica ainda em recuperação, mercado de trabalho com desemprego elevado, inflação pressionada e queda na renda da população com o fim do pagamento do auxílio emergencial, as empresas industriais têm dificuldades de repassar na venda de seus produtos a totalidade dos aumentos nos custos de produção.
Ainda no IGP-M, da FGV, os preços dos bens finais acumulam um aumento de 21,17% no atacado nos 12 meses encerrados em março, menos de um terço da alta das matérias-primas brutas.
A inflação da indústria, apurada pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vem batendo recordes nos últimos meses. Os preços dos produtos industriais na porta de fábrica tiveram uma alta inédita de 5,22% em fevereiro, acumulando um encarecimento de 28,58% no período de um ano, resultado mais elevado da série histórica iniciada em janeiro de 2014.
“Ou as empresas repassam ou elas quebram”, concluiu Joseph Couri.