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Sete grupos concentram aportes do FGTS

Grandes empresas receberam R$ 10,5 bilhões, quase 40% das verbas do fundo de infraestrutura bancado por recursos públicos

Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Por Murilo Rodrigues Alves , BRASÍLIA , RENÉE PEREIRA e SÃO PAULO
Atualização:

Desde que foi criado em 2008, o FI-FGTS tem concentrado boa parte dos recursos desembolsados em poucas empresas. Quase 40% de tudo o que o fundo de investimento - formado com dinheiro do trabalhador brasileiro - aportou em infraestrutura foi destinado a sete grupos econômicos. De acordo com relatório ainda não publicado, ao qual o 'Estado' teve acesso, o fundo liberou até a primeira quinzena de maio R$ 26,84 bilhões para 47 projetos de energia, ferrovias, rodovias, portos, hidrovias e saneamento. A exposição do FI-FGTS se concentra em sete companhias: Odebrecht, Sete Brasil, Vale, OAS, ALL, Alupar e Prumo Logística Global (novo nome da LLX). Os negócios do fundo com esses conglomerados somam R$ 10,5 bilhões - o fundo atua tanto como sócio quanto adquire dívidas das empresas (debêntures). Um outra parcela significativa - R$ 7 bilhões - foi para os cofres do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para financiar, muitas vezes, essas mesmas empresas.Hoje, o FI-FGTS tem cerca de R$ 40 bilhões disponíveis, montante que abrange tanto o patrimônio líquido (R$ 29 bilhões) como o dinheiro que está parado - por volta de R$ 13 bilhões. É sobre o valor total comprometido (VTC) que se faz a conta do limite de 30% de exposição do fundo a cada grupo econômico, previsto no regulamento.Por mais que o fundo não tenha descumprido as exigências legais, o Estado apurou que a intenção é diversificar a carteira de investimentos do FI-FGTS em relação aos setores e às empresas contempladas. Na gaveta de pedidos de aportes e nas prospecções que a Caixa - administradora dos recursos - faz há projetos de concorrentes dos atuais sócios do fundo com chances altas de aprovação.Embora a Caixa afirme que só entra em negócios de baixo risco e com viabilidade atestada por auditorias externas, o FI-FGTS já investiu em empresas com qualidade duvidosa. Algumas quase quebraram, como a Celpa, que entrou com pedido de recuperação judicial e foi comprada por R$ 1 pela Equatorial, do grupo Rede. Outras até devolveram concessões por problemas financeiros, como a Nova Cibe, do Bertin. "Muitas vezes, a decisão de investimento não é técnica, mas política", afirma o professor do Instituto Insper, Otto Nogami. Sócio. A Odebrecht é o grupo econômico que mais tem negócios com o fundo, entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões, apurou o Estado. Ou seja, a exposição do FI-FGTS ao grupo ainda representa algo em torno de 10% do VTC. O fundo aumentou no ano passado a participação nas empresas Odebrecht Ambiental e Odebrecht TransPort. Para manter 30% da sociedade de cada uma das empresas, o FI-FGTS teve de desembolsar, respectivamente R$ 350 milhões e R$ 455 milhões a mais em 2013. Com a operação, passou a deter R$ 993 milhões da Odebrecht Ambiental e R$ 2,5 bilhões da Odebrecht TransPort.Na carteira de negócios da unidade de transporte, estão grandes empreendimentos, como as rodovias Dom Pedro (SP) e BR-163 (MT), o Aeroporto Internacional do Galeão e a Linha 6 (chamada até aqui de Laranja) do metrô de São Paulo.Outra empresa do grupo, a Odebrecht Energia, é uma das sócias da Santo Antônio Energia, concessionária da Hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira (RO). Da concessionária, o fundo adquiriu debêntures de R$ 1,8 bilhão. Em nota, a Odebrecht afirma que entre as 15 empresas do grupo, apenas duas têm participação do fundo: Ambiental e TransPort. Diz ainda que grande parte dos empreendimentos têm criado centenas de empregos para a população Brasil afora.A lista das que mais receberam recursos do FI-FGTS inclui também a Sete Brasil, fornecedora de sondas à Petrobrás (R$ 2,5 bilhões), a mineradora Vale (R$ 1,2 bilhão), OAS (R$ 1,1 bilhão), ALL (R$ 800 milhões), Alupar (R$ 700 milhões) e Prumo Logística (R$ 700 milhões). O Estado apurou que não há preocupação dos gestores quanto à exposição atual do fundo a esses grupos. Até mesmo investimentos polêmicos, como na LLX, que foi recentemente vendida por Eike Batista, são vistos com tranquilidade porque, segundo a Caixa, os contratos dão segurança aos negócios. No caso da LLX, se a empresa tivesse quebrado, o banco estatal se tornaria "dono" de parte do Porto de Açu, principal bem da atual Prumo Logística Global, desde outubro do ano passado controlada pela americana EIG.A Prumo afirmou que os desembolsos, feitos em 2012 e 2013, foram usados nas obras civis para implantação do Terminal 2 do Porto do Açu, como a dragagem do canal, a construção do quebra-mar e de cais, e da Linha de Transmissão.Setores. Os projetos em energia lideram com folga os desembolsos (R$ 10,5 bilhões), seguidos por rodovias (R$ 2,5 bilhão), portos (R$ 2 bilhões), saneamento (R$ 1,8 bilhão), ferrovias (R$ 1,5 bilhão) e hidrovias (R$ 86 milhões). No ano passado, o FI-FGTS teve autorização para aplicar recursos em aeroportos, mas até o momento não houve nenhum desembolsos para essa finalidade específica.

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