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Demanda por passagens cresce, mas lucro das empresas no Brasil pode demorar

Segundo a Abear, setor vive um período ‘duro’, já que o preço do querosene subiu 92% em 2021 e 71% no acumulado deste ano

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Por Luciana Dyniewicz
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ENVIADA ESPECIAL A DOHA - Apesar de a retomada da demanda por viagens aéreas ter sido mais rápida que o esperado, isso não significa que as empresas do setor estão em situação confortável. Com o preço do combustível de aviação subindo de forma acelerada, deve ser difícil a recuperação financeira acompanhar o ritmo da demanda.

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O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, reconhece que a demanda tem avançado bem, mas lembra que os dados atuais incluem passageiros que compraram passagens antes da pandemia, remarcaram os bilhetes e só estão embarcando agora. Ele diz também que essa retomada indica que parte dos consumidores é capaz de arcar com preços superiores, mas a classe C deixou de viajar. Questionado sobre a possibilidade de haver um “teto” para a demanda, que não tem contado com a classe C, ele disse não ter como fazer essa previsão.

O executivo destacou ainda que, embora a ocupação esteja em um patamar positivo, o setor vive um momento “duro” devido ao preço do combustível. No País, o querosene de aviação subiu 92% em 2021 e 71% no acumulado deste ano.

Presidente da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata), Willie Walsh afirma que, hoje, a cotação do combustível é uma das principais preocupações do setor, que deverá gastar US$ 192 bilhões com querosene neste ano. “Não tem como as companhias aéreas absorverem isso.”

A Iata prevê que o lucro retorne à América Latina – e ao mundo – em 2023. Mas, no Brasil, antes mesmo da pandemia, as empresas já não tinham ganhos financeiros. A última vez que isso ocorreu havia sido em 2017, quando, juntas, lucraram R$ 413,7 milhões. Nos anos seguintes, os prejuízos foram de R$ 1,9 bilhão e R$ 3,3 bilhões. Mas as contas explodiram mesmo em 2020 com a chegada da covid e de perdas que alcançaram R$ 20,3 bilhões no ano.

Walsh diz não poder afirmar se as empresas vão registrar lucro no Brasil em 2023. “Se você considerar a região toda, 2023 é algo realístico. Em alguns países específicos, pode não ser. No Brasil, ainda está havendo reestruturações e não posso falar país por país. Mas a recuperação (da demanda) tem sido rápida.”

Empresas aéreas tiveram prejuízo de R$ 20,3 bilhões no Brasil em 2020 Foto: Amanda Perobelli/Reuters - 19/5/2020

Neste ano, a única região que deverá ter lucro é a América do Norte, com US$ 8,8 bilhões. Para Walsh, a diferença entre a região e a América Latina é que o governo dos EUA subsidiou o setor e concedeu às empresas empréstimos a juros baixos. Isso fez com que as companhias mantivessem um maior número de funcionários e pudessem adicionar capacidade de forma mais ágil quando a demanda voltou. Também colaborou para a América do Norte o tamanho robusto do mercado doméstico.

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“A posição (financeira) relativa da América Latina é mais fraca porque não houve socorro (do governo) e o mercado de carga não ajudou tanto (na Ásia principalmente, o segmento tem sido uma alavanca importante), mas o panorama ainda é bastante positivo para a região”, diz o executivo.

*A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA IATA

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