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Setor de máquinas é o que mais deve cortar

Equipamentos agrícolas é segmento mais crítico devido ao crédito fraco

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara e
Atualização:

Fabricantes de bens de capital, de veículos, autopeças, eletroeletrônicos e componentes para a produção de eletrodomésticos já começaram a demitir para ajustar a produção ao menor ritmo de atividade. A indústria de máquinas e equipamentos, a que apresentou maior intenção de cortar pessoal entre dezembro e fevereiro, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), demitiu quase 1,8 mil trabalhadores em novembro, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Foi a primeira queda no nível de emprego em dois anos", afirma o vice-presidente da entidade, Fernando Bueno. O motivo da redução foi a queda de cerca de 15% na carteira de pedidos para o primeiro trimestre deste ano. Os setores mais críticos são os que produzem equipamentos para usinas de açúcar e álcool e máquinas agrícolas. Em dezembro, houve demissão de 1.240 trabalhadores ligados à produção de máquinas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes Veículos Automotores (Anfavea). Milton Rego, vice-presidente da entidade e diretor de Relações Externas da Case New Holland (CNH), diz que o recuo no emprego se deve à queda no mercado doméstico de máquinas agrícolas, sobretudo de colheitadeiras. Normalmente, essas máquinas são vendidas entre dezembro e março e, neste ano, com as restrições de crédito, os financiamentos para os agricultores não estão sendo aprovados. E são as colheitadeiras que demandam mais mão-de-obra. Em dezembro, a CNH, por exemplo, demitiu 350 trabalhadores da fábrica de Curitiba (PR), que produz colheitadeiras. Segundo Rego, foram cortados os temporários que tinham sido contratados até março deste ano, mas tiveram o contrato cancelado antecipadamente. O motivo da dispensa foi a mudança nas expectativas de vendas para o primeiro trimestre. O diretor não confirma nem descarta mais demissões. "É difícil fazer previsões", diz. O quadro é semelhante no segmento de material de transporte, que reúne o segundo maior porcentual de empresas que pretendem demitir. Em um único mês, dezembro, a indústria automobilística demitiu 1.968 trabalhadores. O presidente da Anfavea, Jackson Schneider, justifica que parte do pessoal dispensado trabalhava diretamente nas áreas envolvidas com exportações, que registraram queda por causa da turbulência cambial. Uma das montadoras que cortou 430 postos foi a Volvo, de Curitiba (PR). Desses, 250 tinham contratos temporários, que não foram renovados. Outros 180 eram do quadro efetivo da empresa. A Anfavea não fez projeções para nível de emprego em 2009, que encerrou o ano passado com 128 mil trabalhadores.Mas, se as vendas de carros não deslancharem no primeiro trimestre, novos cortes devem ocorrer. A General Motors já informou que, nas próximas semanas, vai avaliar a necessidade de manter 3 mil contratos temporários que vão vencer ao longo do ano nas fábricas de São José dos Campos (SP) e de São Caetano do Sul (SP). Todas as montadoras estão adotando medidas de flexibilização. A Renault dispensou mil funcionários da fábrica do Paraná por cinco meses. A PSA Peugeot Citroën colocou em licença remunerada até março 700 trabalhadores da fábrica do Rio de Janeiro. A Volks está recorrendo à semana reduzida de trabalho na unidade do Paraná e a GM, a novas férias coletivas. O setor de autopeças deve ter encerrado dezembro com 223,7 mil empregados, segundo projeções do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças). Significa que em novembro teriam ocorrido 3,6 mil demissões e outras 3,9 mil em dezembro. A entidade ainda não divulgou balanço final. A Bosch, por exemplo, uma das maiores autopeças do País, confirma que reduziu em dezembro e neste mês o quadro de trabalhadores efetivos das fábricas de Campinas (SP) e de Curitiba (PR). Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, Eliezer Mariano da Cunha, foram dispensados 600 trabalhadores em dezembro e cerca de 80 na semana passada. "Alegam que não têm pedido em carteira." Janeiro começou com nível recorde de homologações agendadas no sindicato. Estão marcadas 1.527 rescisões, 92% a mais em relação a igual período do ano passado. A maior parte das rescisões trabalhistas são de empresas do setor de autopeças, embora também contribuam para esse número as dispensas do setor eletroeletrônico e de eletrodomésticos, também apontado pela FGV como um dos que mais tem intenção de demitir nos próximos meses. Na segunda-feira passada, os 290 funcionários da fábrica da Invensys, na Lapa, que produz componentes para geladeiras e fogões, foram surpreendidos com o fechamento da unidade de São Paulo e a transferência da linha de produção para Caxias do Sul (RS). A empresa esperou a troca de turno para reunir os trabalhadores e comunicar que 210 estavam demitidos e 80 poderiam ser aproveitados na unidade do Sul. Arquimedes Cripp, gerente de Recursos Humanos, diz que o plano de transferir a linha de produção foi adiantado pela crise. Na segunda-feira, só o primeiro turno trabalhou. "Disseram para nós que iriam fazer um inventário: contamos e embalamos as peças", conta a metalúrgica Suzana Teles Pereira, de 29 anos, há 10 na empresa e que acaba de levantar empréstimo consignado de R$ 2 mil. Na Zona Franca de Manaus (AM), polo de produção de eletroeletrônicos e motocicletas, as demissões atingiram 8.115 trabalhadores entre outubro e dezembro, de um total de 56 mil. "A maior parte dos cortes está ligada à produção de áudio e vídeo", diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, Valdemir Santana.

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