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Setor privado teme concessões nas negociações com OMC

Representantes do G-6 (Brasil, União Européia, Estados Unidos, India, Japão e Austrália) estão reunidos hoje na capital britânica para tentar superar o impasse nas negociações antes do prazo limite, 30 de abril.

Por Agencia Estado
Atualização:

Representantes do setor privado temem que, com a aproximação do prazo final para a conclusão da rodada multilateral da Organização Mundial de Comércio (OMC), o governo brasileiro aceite um acordo limitado, que não traria benefícios suficientes ao País. Além disso, fazem críticas à postura do governo nas negociações. Exemplo disso vem do presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. Ele disse que vai a Londres acompanhar de perto as negociações da OMC. "Eu tenho receio que o cronograma das negociações force o Brasil a aceitar um acordo medíocre." Representantes do G-6 (Brasil, União Européia, Estados Unidos, India, Japão e Austrália) estão reunidos hoje na capital britânica para tentar superar o impasse nas negociações antes do prazo limite, 30 de abril. Eles já admitem, no entanto, que a data poderá ter que ser novamente adiada. Segundo Camargo Neto, o Brasil não pode abrir mão de uma relevante abertura dos mercados agrícolas nos países ricos. Ele teme que o governo brasileiro, que é um dos principais protagonistas dessa negociação, "decida se acomodar e aceitar um acordo ridículo" para evitar o impacto político negativo de um fracasso na rodada. Ceticismo e críticas Camargo Neto está cético com a possibilidade da reunião de chefes de Estado proposta pelo presidente Lula para destravar as negociações vir a ser realizada. "É um carnaval político promovido pelo governo brasileiro que já dura alguns meses sem sinais concretos de avanço". Ele também criticou duramente o governo por não ter assumido uma posição mais rigorosa contra os Estados Unidos no caso do algodão. "Ganhamos no ano passado o caso na OMC contra os subsídios às exportações norte-americanas de algodão, mas desde então o Brasil não fez praticamente nada para que a decisão seja cumprida por Washington apesar de termos direito de retaliação", disse. "O algodão é um dos pilares da rodada de Doha pela sua importância para os países africanos, e o Brasil deveria adotar uma posição firme." Gradualismo O presidente da Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, embora não tenha criticado a estratégia do governo, alertou que uma maior abertura do mercado brasileiro para os veículos importados tem que ocorrer num ritmo gradual para evitar um impacto negativo de longo prazo no setor. "Não somos contra a rodada de Doha, desde que ela seja feita dentro de uma agenda competitiva", disse Golfarb, lembrando que a indústria de automóveis representa 5,6% do PIB brasileiro. "A queda tarifária precisa ser muito gradual." Ele observou que a capacidade ociosa da indústria automobilística mundial é hoje de 25%, devendo em breve alcançar 28%. "Tomo mundo quer arrumar lugar para exportar", disse. "O Brasil é competitivo, mas as margens das empresas estão sob permanente pressão, o real se valorizou e por isso a abertura do país tem que ser gradual." Ele ressaltou que a China já é a terceira maior fabricante do mundo. "A estratégia chinesa é criar uma indústria automobilística mundial".

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