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Setor público tem 3º déficit primário consecutivo em julho, de R$4,7 bi

É a primeira vez, desde o início da série histórica, em 2001, que o setor público registra três meses consecutivos de déficit primário

Por LUCIANA OTONI E ALONSO SOTO
Atualização:

O setor público brasileiro teve déficit primário de 4,715 bilhões de reais em julho, registrando pela primeira vez desde o início da série histórica, em 2001, três meses consecutivos de déficit primário e escancarando a dificuldade do governo de manter as contas equilibradas em meio a uma economia em recessão. O déficit de julho, que foi impactado pela piora do resultado dos Estados e municípios, mais que dobrou em relação a junho, quando o resultado ficou negativo em 2,1 bilhões de reais, mostraram dados divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central. Em julho do ano passado, o setor público tinha registrado superávit primário de 2,3 bilhões de reais. O resultado primário também veio pior do que o projetado por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana apontava saldo positivo de 200 milhões de reais. O governo brasileiro tem como meta fiscal para este ano um superávit primário de 99 bilhões de reais, o equivalente a 1,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). No acumulado do ano até julho, o superávit primário do setor público soma para 24,7 bilhões de reais, 65 por cento menor que o superávit de 71,2 bilhões de reais no mesmo período do ano passado. Com isso, ficou ainda mais distante a possibilidade do governo cumprir a meta fiscal do ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu a dificuldade do governo, mas prometeu "continuar nos esforçando". Ele disse que o governo irá fechar o ano com um resultado primário "razoável", mas não fez estimativas. Em 12 meses até julho, o superávit primário, que é a economia feita para pagamento de juros, recuou para 1,22 por cento do PIB. A deterioração das contas públicas nos últimos anos abalou a confiança dos investidores na economia brasileira, levando a agência de classificação de risco Standard & Poor's a reduzir o rating do Brasil. O fraco desempenho da economia tem comprometido a arrecadação federal, assim como as fortes desonerações fiscais concedidas pelo governo para tentar reavivar a atividade. A economia brasileira encolheu 0,6 por cento no segundo trimestre de 2014 sobre os três meses anteriores, levando o país entrar em recessão técnica, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira.

Julho. No mês passado, o governo central registrou déficit primário de 1,895 bilhão de reais, ante déficit de 2,7 bilhões de reais em junho e superávit de 3,8 bilhões de reais em julho do ano passado. As contas dos Estados e muncípios, os chamados governos regionais, sofreram forte deterioração no mês, com déficit de 2,2 bilhões de reais, ante superávit de 1,5 bilhão de reais em julho do ano passado e de 113 milhões de reais em junho deste ano. As empresas estatais registraram déficit de 603 milhões de reais. Com o elevado déficit primário, o déficit nominal, que contabiliza a apropriação dos juros da dívida pública, saltou em julho para 32,711 bilhões de reais - aumento de 57 por cento ante junho e de 55 por cento ante julho do ano passado. Apesar disso, a dívida pública ficou praticamente estável em 35,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ante 35 por cento no mês anterior. Pesquisa Reuters mostrava que, pela mediana das estimativas, a relação dívida/PIB ficaria em 35 por cento.

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