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Setor puxa o freio na compra de máquinas agrícolas

No acumulado do ano, queda nas vendas internas alcança 31% até outubro; perspectivas para 2016 são semelhantes, dizem fabricantes

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Por Redação
Atualização:

A queda dos indicadores macroeconômicos, somada à instabilidade política e à perspectiva de que o cenário não deverá apresentar melhoras significativas no curto prazo formaram o cenário ideal para comprometer os planos dos produtores rurais de investir na compra de novas máquinas agrícolas até o encerramento da safra 2015/2016, em 30 junho do ano que vem. O ambiente desenhado para os próximos meses ainda é desanimador, com recuo acentuado de investimentos e repercussões negativas no nível de produtividade e de emprego.

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“Se o cenário de instabilidade política e econômica continuar em 2016, deveremos ter uma nova retração nas vendas de máquinas agrícolas. A estimativa é uma queda de 25% a 30% em 2015, quando comparado a 2014”, prevê o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos. Em 2013, o setor faturou R$ 13,1 bilhões. No ano seguinte, esse valor caiu 28%, para R$ 9,6 bilhões, e em 2015 deverá alcançar R$ 7,2 bilhões – retração de 25%.

A participação porcentual do setor agrícola no mercado de máquinas e equipamentos como um todo também vem se retraindo. Em 2013 era de 13,8%; em 2014 encolheu para 10,8% e este ano está em 9,3%.

Para evitar perdas maiores, a Abimaq propôs no início de novembro ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que isente por um ano as empresas do setor de pagar empréstimos já concedidos pelo BNDES (como as linhas PSI e Moderfrota). A proposta é que sejam quitados nesse período somente os juros, sem amortização da dívida, além da transferência do saldo devedor para o fim do contrato. O argumento do presidente da entidade, Carlos Pastoriza, é o de que a retração econômica elevou demasiadamente o nível de endividamento, superando a capacidade de pagamento. “Agora, tem um problema duplo: o mercado despencou. Portanto, tem menos receita, e ainda tem que lidar com o ônus dos empréstimos”, assinala Pastoriza, segundo o qual Levy achou a proposta interessante.

Vendas em queda. Os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) deixam claro que o investidor segue arredio. Em outubro deste ano as vendas internas de máquinas agrícolas encolheram de 6.700 unidades para 3.800, com recuo de 43,4% frente ao mesmo mês de 2014. Na comparação com o mês anterior, a queda é de 4,6%. No ano, as vendas minguaram 31,4% – de 59.200 unidades para 40.600. A retração se repete na produção, que este ano está 30,2% inferior à verificada em 2014. Até outubro, a produção somou 50.500 unidades, ante 72.400 unidades fabricadas em igual período do ano passado. Na comparação com o mesmo mês de 2014, a perda é de 38,7%.

Desconfiança. Outro dado que preocupa é o desânimo dos produtores, constatado pelo Índice de Confiança do Agronegócio, medido trimestralmente pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Segundo os dados referentes ao terceiro trimestre, apenas 14% dos produtores planejam investir na aquisição e modernização de máquinas e equipamentos, porcentual similar ao apurado no início do ano. Deste total, o levantamento mostra que 41% pretendem adquirir tratores, ante 47% verificados de janeiro a março.

A expectativa é de que a reedição do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) – linha operada pelo BNDES para aquisição de máquinas e equipamentos, incluindo os agrícolas –, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), torne o investimento mais atrativo. Nessa nova fase, o prazo para protocolar os pedidos de empréstimos, que havia sido alterado para 30 de outubro, havia sido prorrogado até 27 de novembro. Além disso, a data-limite para contratação permaneceu em 31 de dezembro de 2015. O CMN também manteve o valor global de contratação em R$ 19,6 bilhões.

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Menos 40%. De acordo com o panorama desenhado pelo chefe do Departamento de Agropecuária e Inclusão Social do BNDES, Carlos Alberto Vianna, de fato, nos primeiros quatro meses da atual safra, de julho a outubro, os recursos ofertados para o setor recuaram cerca de 40%. Ele menciona ainda que a dotação orçamentária prevista para a safra 2015/2016 pelo Ministério da Agricultura foi reduzida de R$ 10 bilhões para R$ 5,7 bilhões, em decorrência do ajuste fiscal do governo federal.

Vianna calcula que, dos R$ 5,7 bilhões, o BNDES tenha repassado de julho a outubro R$ 3 bilhões nas modalidades Moderfrota e PSI-Bens de Capital Rural, menos 35% em relação ao mesmo período da safra anterior, quando esse total havia sido de R$ 4,6 bilhões. No PSI Rural, que compõe o plano total de investimentos do Ministério da Agricultura, a redução foi de R$ 6,7 bilhões para R$ 2,7 bilhões. “A expectativa é que o orçamento de R$ 5,7 bilhões, que conta atualmente com saldo de R$ 2,7 bilhões, seja totalmente consumido ao longo do atual ano agrícola”, afirma Vianna.

Bastos, da Abimaq, reconhece que há poucas salvaguardas contra a crise. Ele explica que mesmo a alta do câmbio, que conferiu mais competitividade ao setor, só terá efeito nas contas daqui a dois ou três anos. Os benefícios decorrentes da valorização do dólar também são relativizados pelo executivo do setor Bernhard Kiep, vice-presidente de Marketing da fabricante de máquinas agrícolas AGCO, dona das marcas Massey Fergusson e Valtra. “Por um lado, é favorável porque (o dólar alto) rentabiliza as exportações. Por outro, encarece os insumos e eleva os custos totais.”

O presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Almir Dalpasquale, assinala que nem mesmo a alta do dólar deve fazer com que o produtor contrate créditos que antecipem ganhos que podem não se confirmar. Até porque lembra que boa parte da safra, cerca de 60%, foi vendida no primeiro semestre por um dólar cotado entre R$ 2,60 e R$ 2,70. “As vendas com a cotação próxima de R$ 4 neste segundo semestre devem amenizar apenas parte das perdas”, avisa. Sem revelar números, o executivo da AGCO prevê perdas acentuadas no faturamento da empresa em 2015 e também em 2016.

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Na fabricante de máquinas e implementos agrícolas Jumil, a diretora de Marketing Estratégico, Patrícia Morais Crivelenti, estima que o recuo nas vendas deve ficar em 25% neste ano. “Acreditamos que em 2016 o mercado doméstico poderá ser ainda menor, dependendo da oferta de crédito”, prevê. Para além do financiamento público, Patrícia observa que já existem, ainda que timidamente, buscas por alternativas de crédito, como o sistema de consórcio e o de barter, no qual o resultado da colheita é usado como moeda de troca. A AGCO está na fase inicial de instalação desta modalidade.

Dinheiro público. A expectativa de Kiep é que em 2016 o barter represente até 5% das vendas. De acordo com ele, na AGCO, os financiamentos públicos são responsáveis por até 70% do faturamento e só a participação do Moderfrota (outra linha oficial de financiamento de máquinas agrícolas gerida pelo BNDES) é próxima a 50%. “A redução do financiamento público, além de trazer incertezas, implica revisão operacional e financeira”, argumenta Kiep. Patrícia afirma que atrasos recorrentes nas decisões de repasses acarretam prejuízos, o que poderia ser evitado se a política de financiamento fosse uma estratégia de País e não de governante.