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Shopping center pode ocupar unidades desativadas de montadoras

Impacto deve ocorrer no emprego porque as vagas da indústria pagam salários melhores em relação ao comércio

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Com capacidade instalada para produzir entre 4,5 e 4,7 milhões de veículos, mas operando abaixo da metade desse volume, o setor automotivo corre riscos de ver outras fábricas serem fechadas no País. “Há grupos que operam em melhores condições, mas outros usam 30% da capacidade”, diz Cássio Pagliarini, da Bright Consulting.

Ele vê as áreas de logística e de shopping centers como principais candidatas a ocupar instalações hoje dedicadas à produção industrial, em especial aquelas próximas a centros urbanos.

Pagliarini lembra que outra área onde funcionou uma fábrica de fundição de peças da Ford em Osasco, na Grande São Paulo, também é ocupada hoje por uma empresa de logística.

Áreas de logística e de shopping centers podem ocupar instalações hoje dedicadas à produção industrial. Foto: Gabriela Biló/Estadão

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“Não acredito que instalações usadas por montadoras que eventualmente encerrem a produção sejam ocupadas por outra indústria automobilística”, diz o consultor. Ele ressalta ainda que empregos no setor de logística exigem menos qualificação, menos escolaridade e os salários são menores em relação aos pagos por montadoras.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, compartilha da opinião. “Esperamos que, de fato, o novo empreendimento gere milhares de empregos, mas temos certeza de que jamais terão a qualidade que uma montadora pode oferecer.” O sindicalista cita que, em média, o setor de serviços paga salários 40% inferiores aos empregos industriais em montadoras. Na área logística, diz ele, a qualidade do emprego pode ser ainda menor em razão de serviços inferiores como plano médico e refeições.

“Por isso insistimos tanto na manutenção de um parque industrial no local, de preferência com outra montadora”, afirma Santana. “Menos qualidade do emprego, menores salários e tipo de contratação – temporária ou pela nova CLT – confirmam o que não queríamos, que é o empobrecimento da nossa região.”

Instalações

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Os novos donos do terreno da Ford no ABC afirmam que vão reaproveitar boa parte das instalações que serão adaptadas para receber os galpões que serão alocados. O prédio onde eram fabricados motores vai abrigar a área de apoio e a praça de alimentação.

O edifício administrativo construído pela Willys – que foi incorporada à Ford em 1967 – será um centro tecnológico direcionado à operações de data center. “Vamos aproveitar também a infraestrutura de instalações, o sistema elétrico que é de grande capacidade, o sistema de combate a incêndio, as vias internas e o sistema de tratamento de esgoto e efluentes – que vai nos ajudar a obter o certificado ambiental com galpões Triple A”, afirma Mauro Silvestri, da Construtora São José.

Essa é a classificação mais alta no mercado imobiliário em termos de qualidade, padrão, tecnologia e sustentabilidade. 

No prédio da Willys, um mural externo feito pelo artista Clóvis Graciano nos anos 60 também será mantido e restaurado, avisa Silvestri.

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