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Siderúrgicas perdem R$ 1,7 bi em um dia

Empresas dizem que serão prejudicadas se a ameaça de taxação do aço se concretizar, pois um terço das exportações do País vai para os EUA

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

As siderúrgicas instaladas no Brasil estão preocupadas com a ameaça de taxação em 25% do aço importado pelos Estados Unidos. A medida, anunciada na quinta-feira, 1º, pelo presidente Donald Trump, será detalhada a partir da próxima semana e coloca as indústrias em alerta.

Siderúrgicas brasileiras são alvo de barreiras no exterior e pleiteam proteção no mercado doméstico Foto: Divulgação

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“Um terço das exportações brasileiras de aço tem como destino os Estados Unidos”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr). As ações da CSN, Usiminas e Gerdau fecharam com forte queda na sexta-feira, entre os piores desempenho da Bolsa. Juntas, as três perderam R$ 1,7 bilhão em valor de mercado.

No ano passado, o País exportou 15,3 milhões de toneladas de aço, dos quais 4,7 milhões de toneladas (US$ 2,6 bilhões em receita) foram para o mercado americano, segundo a IABr. Só a CSA, que pertence ao grupo ítalo-argentino Ternium, tem contrato anual de 2 milhões de toneladas de aço para a Calvert, no Alabama. A francesa Vallourec, com unidades em Minas, exporta 70% de sua produção, boa parte para o mercado americano.

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse que a decisão dos EUA de impor sobretaxas é “injustificada, ilegal e prejudica o Brasil”. Para a entidade, as medidas anunciadas por Trump “vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em exportações de alumínio”.

A CSN e outras siderúrgicas no País começaram a intensificar as exportações nos últimos anos, após a longa recessão que se abateu sobre o Brasil. Fontes ligadas à siderúrgica comandada pelo empresário Benjamin Steinbruch afirmaram que a empresa aposta na recuperação do mercado interno. A CSN exporta placas para sua unidade em Indiana, nos EUA, que é reindustrializada.

Os papéis da CSN encerraram a sexta-feira com recuo de 5,05%, cotados a R$ 9,21. As ações da Usiminas caíram 3,9%, a R$ 11,34, enquanto as da Gerdau baixaram 1,46%, a R$ 16,90 (os papéis da holding da família caíram 2,38%).

Risco. Para Lopes, do IABr, apostar na recuperação do mercado doméstico é uma temeridade. “O Brasil produziu 34 milhões de toneladas de aço em 2017, dos quais 15,3 milhões foram exportadas. Ainda há capacidade ociosa no País”, disse ele, lembrando que o consumo aparente ficou em 19 milhões de toneladas no ano passado. “As vendas no mercado doméstico foram de 16 milhões de toneladas de toneladas.”

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No início desta semana, Lopes e representantes das principais indústrias instaladas no País participaram de reuniões nos EUA para tentar sensibilizar o governo americano sobre os impactos de tarifas sobre o aço brasileiro. “O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás do Canadá, e cerca de 80% do que o Brasil vende ao mercado americano é reprocessado. Os EUA importam cerca de 30 milhões de toneladas e, com essa medida, esse volume vai sobrar”, disse.

Procurada, a Usiminas informou que as novas medidas a serem publicadas pelo governo dos EUA não devem ter impacto relevante para a empresa, uma vez que o país respondeu por 4% das vendas externas da companhia no ano passado. A empresa destina apenas 15% de suas vendas totais ao mercado externo.

À reportagem, a Vallourec não revelou dados de exportação, mas afirmou que, atualmente, a unidade brasileira exporta aproximadamente 70% da produção e que o mercado americano é um dos principais compradores. A CSN não comentou o assunto. Já a Gerdau não retornou os pedidos de entrevista. /COLABORARAM LORENNA RODRIGUES, DE BRASÍLIA, E RENATO CARVALHO, DE SÃO PAULO

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