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‘Sinais são de juros reais ainda baixos nos EUA’

José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, explica que os mercados futuros de juros reais, nos Estados Unidos, não sinalizam para uma política monetária em território contracionista (com juros reais mais elevados) nos próximos dez anos

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Por Redação
Atualização:
José Júlio Senna, economista do Ibre/FGV e ex-diretor do Banco Central Foto: Werther Santana/ Estadão

O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, anunciou a retirada de estímulos na economia do país. O chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Julio Senna, explica os motivos. 

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Por que o Fed vai iniciar a retirada dos estímulos?

Está muito claro que a inflação nos Estados Unidos começou concentrada. É a história da inflação da pandemia. Começa como uma inflação de bens, especialmente duráveis, que, por mais de duas décadas, foi negativa, por conta da combinação da demografia favorável que beneficiou a produção chinesa com a globalização. Agora, esses preços foram muito para cima na pandemia. Há gargalos de oferta (na indústria) e desvio de demanda (dos serviços para bens). Mas essa inflação foi se disseminando muito rapidamente. O índice de difusão ficou em 85% em setembro, no PCE, o índice oficial de inflação dos Estados Unidos.

Por que a mudança na política monetária começa nos estímulos via compra de títulos?

O Fomc (o comitê de política monetária do Fed) começou o “tapering” (a moderação gradual dos estímulos) como previsto. Fizeram algo muito coerente com o que o (Jerome) Powell (presidente do Fed) tinha dito na reunião anterior. Ele tinha falado que não fazia sentido misturar “tapering” com alta de juro. A compra de títulos é expansionista. Não é para fazer simultaneamente com alta de juros. E o Powell disse, em outras palavras: se a chapa ficar quente debaixo dos pés, aceleraremos o “tapering”, para terminar logo com ele e abrir espaço para subir as taxas de juros. Eles anunciaram uma redução de US$ 15 bilhões ao mês em novembro e dezembro e deixaram em aberto para frente. A possibilidade de acelerar o “tapering” está na mesa.

Isso é ruim para os emergentes, o Brasil incluído?

Não espero um arrasa-quarteirão. Nada muito drástico. O caminho dos juros é inexoravelmente para cima, mas nada com força excepcional. Isso é menos ruim. A direção não é boa, mas a intensidade talvez não seja assustadora. Os mercados futuros de juros reais, nos Estados Unidos, não sinalizam para uma política monetária em território contracionista (com juros reais mais elevados) nos próximos dez anos. Os sinais são de juros reais ainda baixos, próximos ao “juro neutro” ou “de equilíbrio” (como é chamado o nível da taxa de juros que permite uma economia crescer sem desequilíbrios, como a elevação da inflação). 

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