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‘Sinceridade’ de Levy preocupa Planalto

Para integrante do núcleo duro do governo, ministro precisa entender que está no 5º ano do governo Dilma e não no 1º da gestão Levy

Por Debora Bergamasco
Atualização:

A dificuldade do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em modular o tom das críticas ao legado do ex-titular Guido Mantega, além dos problemas em adotar um discurso que represente uma gestão de continuidade e não de oposição, tem causado incômodo na presidente Dilma Rousseff e nos ministros que entendem e defendem o ajuste fiscal proposto por ele. 

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O primeiro bimestre de gestão de Levy é avaliado por integrantes do governo como provocador e de consequências políticas e econômicas “péssimas” para o governo. A presidente tem dito a interlocutores que confia nos resultados das medidas propostas pelo ministro, mesmo que os resultados venham apenas no médio e no longo prazos. 

Porém, existe no Palácio do Planalto a preocupação de que o “excesso de sinceridade” de Levy dê argumentos a grupos petistas contrários ao ajuste fiscal do ministro. Isso contaminaria integrantes do Executivo que não apoiam a nova política econômica, e que torcem para a diminuição do prestígio de Levy com a presidente. “Ele precisa encontrar uma forma de se convencer de que estamos vivendo o quinto ano de mandato da presidente da República, e não o primeiro ano de gestão Levy”, avalia um integrante do núcleo duro do governo. 

Esse ruído, causado pelo tom às vezes “desajeitado” do ministro, chegou ao ápice quando ele declarou que a política econômica de desonerações da folha de pagamento praticada por seu antecessor era “grosseira”. A presidente reagiu no dia seguinte: “O ministro foi infeliz no uso do adjetivo”. 

Nesse episódio, Levy foi avisado por telefone, e com antecedência, de que receberia uma bronca pública. Depois, ele próprio afirmou a pessoas de seu círculo que a chefe foi “elegante” e que havia sido uma repreensão “gentil”. 

Prós. A favor de Levy está pesando o fato de ele ter se disposto a assumir a interlocução com partidos da base para tentar convencer parlamentares a aprovar o pacote de ajuste fiscal do governo que tramitará no Congresso. Ele foi pessoalmente a um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, e tratou diretamente com lideranças do PMDB, maior legenda aliada e que atravessa uma crise de relacionamento com a presidente. Acabou assumindo o papel do ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, com quem o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já disse que não senta para negociar. 

Direto, Levy é um dos únicos ministros que passa a mão no telefone, liga diretamente para a presidente e ainda é atendido por ela. A interlocução dos dois é feita sem intermédio de nenhuma outra autoridade, privilégio que causa ciúme entre os demais ministros. 

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Uma das maiores preocupações de Dilma é que, no momento em que tenta recuperar a credibilidade com o mercado e busca evitar a perda da nota de crédito nas agências internacionais de classificação de risco, as metas irreais de inflação programadas para 2015 prejudiquem seus planos. Mesmo que os limites do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tenham sido definidos há dois anos, sem a participação do recém-chegado Levy, as decisões do novo ministro, mesmo que endossadas pela presidente, têm empurrado a inflação. 

Já se sabia, por exemplo, que o represamento dos preços da gasolina iriam esgarçar as previsões centrais da meta do IPCA deste ano, que é de 4,5%. Entretanto, foi uma surpresa a reação dos caminhoneiros ao aumento do diesel, que desligaram os motores e bloquearam rodovias por mais de uma semana em vários Estados. Isso comprometeu a distribuição de combustíveis e de alimentos, causando mais impacto sobre o preço dos produtos, além do desgaste político causado pelo episódio. 

A política de restrição a subsídios ao setor elétrico implementada por Levy também vai piorar ainda mais o cenário econômico e a expectativa, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é que a conta de luz pressione a inflação do mês de março, fechando um terrível primeiro trimestre para a economia. O acumulado de 2015 ficou em 2,48%. E o aumento acumulado para o ano está em 7,7%, o mais elevado desde 2005. 

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