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Sindicalistas falam em demissões com automação das plataformas da Petrobras

Representantes dos trabalhadores alertam também para risco de diminuição de segurança com redução de funcionários

Por Fernanda Nunes
Atualização:

RIO - As duas federações representantes dos empregados da Petrobras – Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) – não tinham conhecimento do programa da Petrobras de substituir empregados por máquinas, nas plataformas, a partir de 2030. O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, reclamou da falta de comunicação da empresa, que, em sua opinião, deveria ter procurado os sindicatos para debater o assunto.

“Todo esse processo carece de um maior diálogo e negociação com o movimento sindical. No acordo coletivo com a Petrobras, temos um capítulo que trata de inovações tecnológicas. Deveríamos estar discutindo também sobre esse processo, porque, obviamente, isso atinge em cheio o mercado de trabalho no setor de petróleo e gás”, diz. “O processo está ocorrendo à revelia dos trabalhadores”, completa Bacelar.

Plataforma da Petrobras; equipes trabalham em turnos de 12 horas por 14 dias seguidos nas unidades marítimas Foto: Fabio Motta/Estadão

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O diretor da FNP Marcelo Silva de Lima avalia que outro problema da operação remota está na segurança ambiental. Em sua opinião, fará falta uma brigada de emergência embarcada para resolver um problema imediatamente. “Há as vantagens dos trabalhadores não estarem expostos aos agentes químicos que existem na plataforma, principalmente ao benzeno, pela questão cancerígena. Mas pode acontecer algum problema, e a gente não acredita que a operação remota seja capaz de garantir a segurança nas plataformas.”

A Petrobras não divulga o número de trabalhadores embarcados. Mas, em seu site, informa que, na Bacia de Campos, no litoral fluminense, há “7 mil colaboradores trabalhando nas mais diversas frentes de atuação e 25 plataformas marítimas em operação”, o que representa 280 empregados em cada uma das embarcações, em média. Como o trabalho é dividido em dois turnos, são 140 empregados por turno. A FNP contabiliza 320 nas unidades do pré-sal, sendo 160 por turno. A maior parte deles seria de terceirizados. Essa categoria tende a ser também a mais afetada pelas mudanças, já que demiti-la é mais fácil do que no caso dos empregados próprios, concursados.

Novas competências 

A empresa afirmou reconhecer a capacidade do seu corpo técnico, comprovada pelos desafios tecnológicos vencidos. “O desenvolvimento de novas tecnologias não reduz a necessidade de capital humano, uma vez que os desafios se renovam e exigem novas competências dos profissionais da companhia”, argumentou.

Segundo a estatal, uma prova da continuidade da valorização do capital humano é a realização de um novo concurso público com 757 vagas, que está aberto, e a realocação dos empregados que atuavam em ativos em processo de desinvestimento que quiseram permanecer na empresa. “Além disso, a empresa investe de forma contínua e consistente no desenvolvimento e na capacitação de seus empregados e lhes proporciona oportunidades de movimentação.”

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A Petrobras já tem plataformas com produção operada remotamente e apenas equipes de manutenção e reparos a bordo. Cada funcionário permanece 14 dias consecutivos nas unidades marítimas e costuma trabalhar em turnos das 7h às 19h e das 19h às 7h.

Em geral, dentro de uma unidade há uma equipe operacional, que regula válvulas e equipamentos, e outra de lastro, que monitora permanentemente o equilíbrio da embarcação. Todas essas atividades são importantes para a produção, que é perigosa também por causa do uso de materiais inflamáveis. Há ainda a brigada de incêndio.

“É um ambiente industrial perigoso. Não podemos ter pessoas inexperientes e com salários baixíssimos”, afirmou Bárbara Bezerra, técnica em Segurança do Trabalho da Petrobras e diretora do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF). “A Petrobras tem diminuído muito o contingente. Tem de ter a quantidade correta de pessoas. Conhecendo os riscos, é possível conhecer a prevenção.”

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