As mudanças no Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) começam a dividir a própria categoria dos economistas. Composto majoritariamente por pensadores heterodoxos e desenvolvimentistas, as diretorias do Sindicato dos Economistas e do Conselho Regional de Economia (Corecon) do Estado do Rio de Janeiro aprovaram uma moção de solidariedade ao novo presidente do Ipea, Márcio Pochmann, e ao novo diretor de Macroeconomia, João Sicsú. Ambos foram criticados por afastar recentemente da instituição pesquisadores de pensamento econômico diferente. "A mudança no comando do Ipea traduz a nova orientação (embora ainda tímida e incompleta) do presidente Lula no sentido de melhorar os resultados obtidos pelo Brasil em termos de desenvolvimento", diz a nota das entidades. O texto acirra a polêmica ao dizer que "os quatro economistas desligados do Ipea jamais se colocaram firmemente contra o conservadorismo alienante do Banco Central". Segundo a diretoria do Corecon, "os economistas brasileiros se dividem hoje entre os que aceitam e os que rejeitam a visão neoliberal do Banco Central, que, presentemente, comanda os destinos econômicos do País". A crítica é feita para tentar demonstrar que a mudança no instituto não tem o objetivo de calar os ataques ao governo porque é "a nova diretoria do Ipea, e não os quatro pesquisadores dispensados, que deve ser considerada contrária à política econômica oficial." DIVERGÊNCIA Ao tomar conhecimento da moção, o economista José Roberto Afonso apresentou um protesto formal. "Também defendo mudanças na política econômica, mas isso não me autoriza a faltar com respeito com meus pares com opinião diferente", disse Afonso, em mensagem eletrônica enviada às diretorias do sindicato e do conselho. "A função dessas instituições é defender os economistas e não os seus patrões", continuou Afonso. "Lamento profundamente e espero que defendam todos os economistas, seja qual for a opinião deles." Em entrevista ao Estado, José Roberto Afonso criticou "a falta de respeito" com que o sindicato e o conselho trataram os economistas afastados do Ipea, incluindo Fábio Giambiagi. Para o economista, existe atualmente "um preconceito intelectual" que procura "rotular os economistas de acordo com as universidades em que estudaram ou as instituições em que trabalham".