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Situação é difícil, mas administrável, diz ex-diretor do BC

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-diretor da área bancária do Banco Central, consultor da Macroanálises e integrante do Conselho Fiscal do Banco Itaú, Alberto Furuguem, não considera que o encurtamento do prazo da dívida pública e a concentração de vencimentos da dívida no primeiro trimestre do ano que vem sejam problemas, mas lamentou que isso esteja "criando no mercado uma expectativa de que há algum risco de ter algum tipo de renegociação (da dívida pública)". Para ele, "isso é muito ruim, porque quando se fala em renegociação a gente começa a lembrar de Plano Collor, mas acho que não há a menor necessidade disso". Ele disse que não estava dizendo que vai ser fácil para quem assumir, mas completou que "o manejo é difícil mas é administrável". De acordo com Furuguem, "a gente exagera o problema do prazo da dívida, quando o problema maior é custo". Ele afirmou que o mercado quer papéis do governo com prazos mais curtos "e não adianta ir contra uma realidade do mercado". Furuguem disse ainda sobre as expectativas do governo forçar uma renegociação da dívida: "O que vai acontecer com a posse do novo governo? Nada. Eu espero que ninguém pense em soluções heterodoxas." Segundo Furuguem, as turbulências do mercado financeiro vão passar tão logo saia o resultado das eleições presidenciais, qualquer que seja o eleito. "Acho que as coisas vão se acalmar porque aí o eleito vai ter de dar os nomes para o Ministério da Fazenda e para o Banco Central e vai dizer o que vai fazer na economia. Acredito que não vai ter nada mirabolante", afirmou. Ele disse, porém, que "até lá a gente tem de rezar porque com o dólar subindo muito a inflação é afetada, o juro real sobe e a economia cresce menos". Furuguem atribuiu ao presidente Fernando Henrique Cardoso parte da responsabilidade pelas turbulências pelo fato de o presidente ter declarado que o Brasil poderia vir a ter uma crise como a da Argentina. Para ele, o cenário pré-eleitoral mexeu com o mercado tanto no sentido de provocar declarações desse tipo como por acentuar as preocupações com problemas macroeconômicos. "Os problemas da dívida pública e da vulnerabilidade externa não são novos, mas com a proximidade da eleição parece que são vistos com lente de aumento", disse. Para ele, "é preciso criar condições para o País crescer ou o sistema financeiro acabará tendo problemas". Outra crítica que o ex-diretor do BC fez ao governo é que "há um discurso de prioridade para exportação e uma prática totalmente diferente", citando dificuldades para o exportador, como as taxas de juros, o sistema tributário, a estrutura portuária e a burocracia. Ele disse também que as medidas anunciadas pelo governo são as que poderiam ser tomadas, mas só o mercado dirá se são suficientes. Para o economista, a política econômica terá de ser operada de outra forma no próximo governo. "O desequilíbrio fiscal tem sido crescente e o ajuste que se fez foi sempre em cima do aumento da carga tributária e com impostos ruins, em cascata." De acordo com ele, desde 1990 a taxa de juro média real da Selic tem sido de 19% ao ano. "Temos de ter, em algum momento, uma taxa de juro real razoável de 5% ou 6% ao ano, que já é umas três vezes a de países desenvolvidos."

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