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Skaf compara decisão do Copom a agarrão em atleta na reta final

Empresários e sindicalistas aprofundam crítica à alta da Selic, que vinha se mantendo inalterada nas últimas reuniões

Por Marcelo Rehder , e Jacqueline Farid
Atualização:

Mesmo esperada, a alta dos juros anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de 0,5 ponto porcentual, recebeu revoada de críticas de empresários e sindicalistas, num coro que vem se repetindo mesmo quando o BC mantinha a taxa inalterada. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse estar perplexo. "A alta dos juros não se justifica, porque a trajetória atual da inflação permanece dentro da meta estabelecida, não havendo sinais de alastramento da pressão inflacionária." A decisão de aumentar os juros de forma mais agressiva em caráter de precaução é resultado do descompasso entre as políticas fiscal e monetária, afirmou Monteiro Neto. "Há necessidade de reverter a atual política fiscal expansionista que impõe à política monetária a ancoragem única da inflação." O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, comparou a decisão com o episódio do atleta Vanderlei Cordeiro de Lima, que foi agarrado e impedido de vencer uma corrida nas Olimpíadas de 2006. Em frase publicada abaixo da foto do atleta sendo agarrado, a Fiesp cita: "Flagrante de mais uma ação preventiva da autoridade monetária para impedir o desempenho do atleta da economia brasileira no ranking mundial do crescimento". Os efeitos da alta dos juros nos investimentos são a principal preocupação do economista Julio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)."O BC deu início a um processo extremamente perigoso para a economia brasileira." Para Almeida,"mais importante que o aumento do custo do crédito para o setor privado, é que a alta de 0,5 ponto, infelizmente, diz para os nossos empresários não investirem tanto, para os bancos não emprestarem tanto para os consumidores e, com isso, a economia vai sofrer". Ele citou ainda um efeito adicional, que estará claro já a partir de hoje e consiste numa queda ainda maior do dólar. "Infelizmente, isso trará mais problemas à balança." Paulo Butori, presidente do Sindipeças, disse que o mercado "não precisava desse aumento de juros agora". Ele acredita que o efeito no consumo não será imediato, mas, daqui a dois meses, haverá queda de demanda em vários setores. ALERGIA Para Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, a decisão, ao apontar para um ciclo de longo aperto monetário, vai condenar o Brasil "ao eterno vôo da galinha, sem conseguir manter os índices robustos de crescimento do PIB que se verificaram nos dois últimos anos". O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, considerou lamentável o fato de o Copom ter desprezado a "vontade da imensa maioria da sociedade", que era de redução de juros. Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse ser um erro conter esse momento virtuoso da economia. "O BC demonstra que tem alergia à palavra crescimento."

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