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Skaf defende adoção de política econômica heterodoxa

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu hoje a adoção de uma política econômica heterodoxa no País. Ao final de encontro de cortesia ao novo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Skaf afirmou que seria "saudável" ao Brasil abandonar a linha monetarista para a adoção de uma política desenvolvimentista. "O Brasil tem de entrar em outro ciclo. Já está há 20 anos e não pode ficar mais 20 anos falando em inflação, se a inflação nem existe mais", declarou à imprensa, ao ressaltar que a expectativa inflacionária para este ano é de 4,0%, abaixo do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5%. Skaf, entretanto, ressaltou que é preciso, neste momento em que a crise econômica global atinge a produção e o emprego do País, deixar a agenda de longo prazo de lado para "discutir o socorro" e a adoção de medidas emergenciais. "Estamos sob ataque e vivendo um momento atípico. Não podemos ter paradigmas nem falta de coragem para adotar medidas que sirvam ao interesse nacional", defendeu. Entre as medidas pontuais, Skaf defendeu a redução dos prazos de realização das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), "com queda na taxa Selic em cada uma delas". Argumentou que, no País, não há inflação de demanda para sustentar a posição mais conservadora do Copom. Embora tenha refutado a perspectiva de recessão técnica ao final deste trimestre, destacou que é provável que tenha havido uma nova redução na atividade industrial em janeiro. "Manter a taxa Selic em 12,75% e esperar 45 dias para uma nova reunião do Copom são situações que estão na contramão do interesse brasileiro e do que o mundo está fazendo", insistiu o presidente da Fiesp. "Não há razão para ter uma taxa Selic acima de 8%." A Fiesp defende ainda uma maior pressão sobre o setor bancário e a liberação do depósito compulsório à vista, como iniciativas para a redução do spread bancário (diferença entre o juro do crédito e o custo de captação dos recursos pelos bancos), uma maior desoneração para o setor produtivo e a flexibilização de regras trabalhistas. Argentina Skaf defendeu também que o Brasil adote medidas de restrição às importações de produtos argentinos, como resposta na mesma moeda às iniciativas de Buenos Aires para limitar as compras de mercadorias brasileiras. Skaf argumentou que, a despeito das regras de livre comércio vigentes no Mercosul, setores brasileiros esperam desde outubro e novembro a autorização de guias de importação de seus produtos e que também estão sendo alvos de sobretaxas antidumping aplicadas com base em critérios duvidosos. "Temos de responder à Argentina impondo restrições às importações de produtos argentinos", afirmou Skaf. Com o resto do mundo, entretanto, Skaf foi um pouco mais tolerante. Defendeu que o Brasil não deve "levantar a bandeira protecionista", embora deva agir em defesa de seus interesses legítimos e atacar as importações predatórias e as práticas desleais e ilegais de comércio. Propôs ainda que o governo brasileiro adote medidas preventivas de defesa comercial em casos suspeitos de dumping e de subsídios e maior fiscalização sobre o subfaturamento, como meio de "defender o emprego brasileiro". Skaf mostrou-se preocupado especialmente com a possibilidade de reorientação para o mercado brasileiro de exportações da China que, originalmente, seguiriam para os Estados Unidos e a Europa.

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