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Snow aponta perspectivas e impactos da queda do dólar

Por Agencia Estado
Atualização:

Como mandam a prática e o bom senso, os ministros das finanças dos Grupo dos Sete países mais ricos nada disseram em público sobre a relação cambial entre as moedas dominantes do sistema financeiro internacional em sua reunião de ontem no balneário francês de Deauville. Mas a tendência recente de forte desvalorização do dólar frente ao euro e ao iene, que persistiu às vésperas do encontro, foi uma espécie de elefante branco na sala - um tema inevitável e que esteve implícito nas declarações feitas pelos representantes dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Canadá, antes e depois da reunião. Menos de uma semana depois de sinalizar a satisfação de Washington com a queda do dólar, dizendo que a intervenção dos bancos centrais no mercado de moedas deve ser "mantida num nível mínimo", o secretário do Tesouro americano, John Snow, disse que "ao mesmo tempo em que estamos dando passos nos Estados Unidos para estimular um maior crescimento, reconhecendo que nossos crescimento de 1,6% no primeiro trimestre não foi adequado, queremos conversar com nossos amigos sobre o fato de que o crescimento de seus países também não é adequado". Antes da reunião, Snow aconselhou japoneses e europeus a não culpar a desvalorização do dólar pela anemia econômica de seus países e tomar as medidas necessárias promover o crescimento. "A questão tornou-se tão séria, quando você olha para as taxas de crescimento da economia mundial, que é chegada a hora de sermos um pouco mais incisivos para obter um consenso sobre como seguir adiante". Medidas de reaquecimento econômico Analistas anteciparam o argumento mais forte de Snow nas conversas com seu colegas em Deauville: a desvalorização de 23% e 12% do dólar frente ao euro e ao iene, respectivamente, desde janeiro, deve levá-los a responder não com intervenções no mercado de moedas, como fez o Banco do Japão na semana passada, mas com medidas de estímulo à economia, como o afrouxamento da política monetária, no caso da Europa, e de expansão de gastos públicos, no caso do Japão, capazes de tirar suas economias do caminho da recessão. Antes mesmo da reunião de ontem, o ministro das finanças da França, Francis Mer, manifestou sua preocupação com a valorização do euro e pediu ao Banco Central Europeu (ECB) que reduza a taxa de juros. Segundo fontes canadenses em Deauville, a pressão em favor de um novo corte de juros pelo ECB aumentará depois da reunião de ontem. As declarações de Snow antes da reunião do G-7 levaram analistas como Tom Gallagher, do Grupo ISI, a concluir que a administração Bush "não tem nenhum intenção de agir para parar a queda do dólar, enquanto ela se der de forma ordeira". A opinião dominante é que a nova abordagem de Washington na política econômica internacional ancorada no dólar desvalorizado é menos produto de uma grande estratégia do que da decisão de explorar em seu benefício uma situação de mercado e diante da qual não há muito o que os governos possam fazer - mesmo o governo dos EUA - que contrarie os fundamentos do mercado. Além do efeito positivo que poderá gerar do outro lado do Atlântico, forçando a Europa a adotar políticas expansionistas que estimulem o crescimento global, a queda do dólar é vista como desejável pelos economistas por causa dos impactos que produz também nos EUA. Embora esta não seja uma opinião unânime, ela é amplamente compartilhada, "Há um acordo generalizado de que seria melhor, para os EUA e para as economias do mundo, se o valor de troca do dólar fosse mais baixo", escreveram Fred Bergstein e John Williamson, do Instituto de Economia Internacional, em fevereiro passado, relatando as conclusões de uma conferência que a entidade promoveu sobre o assunto no final do ano passado. Efeitos da desvalorização do dólar No curto prazo, nos Estados Unidos, o efeito inflacionário que a desvalorização da moeda norte-americana provoca via aumento dos preços dos produtos importados é tida como uma boa notícia porque ajuda o país a proteger-se contra uma deflação - uma queda generalizada dos preços que pode jogar o país numa prolongada depressão e já está no radar das preocupações do Federal Reserve, o banco central americano. A médio prazo, um dólar mais fraco aumenta o valor das receitas e dos lucros das empresas americanas que atuam nos exterior, uma tendência que já se reflete nos ganhos recentes do mercado de ações em Nova York. Além disso, ao aumentar a competitividade dos produtos e serviços negociados em dólar, a desvalorização da moeda americana tende a reduzir o explosivo déficit comercial americano e, com o tempo, reduzir as pressões protecionistas que hoje ameaçam as negociações internacionais sobre liberalização de comércio. Este último efeito e o fato de o real estar ligado ao dólar tornam a desvalorização da moeda americana uma boa notícia também para o Brasil. Mesmo que tenha se valorizado em relação ao dólar, o real não perdeu competitividade internacional no resto do mundo, porque caiu junto com a moeda americana.

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