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Só Obama não salva o mundo

Por Alberto Tamer
Atualização:

Mais um pacote de Barack Obama, US$ 75 bilhões para socorrer o setor imobiliário americano, onde a crise nasceu e se alimenta. Beneficiará a cerca de 9 milhões de famílias ameaçadas de serem despejados ou que estão com pagamentos atrasados em mais de três meses. Mas, não é só isso. O presidente dos Estados Unidos deixou claro que outros pacotes poderão vir. O próximo será ainda para o mercado financeiro, onde os grandes bancos americanos não param de anunciar prejuízos. De quanto, ninguém ainda sabe. Surgem sempre novidades desastrosas. E tem ainda essa indústria automobilística americana, pouco responsável, que se transformou em uma sugadora insaciável de recursos do governo. A GM e a Chrysler quanto mais recebem, pedem mais. Falam de dezenas de bilhões como se fossem ninharias. As duas ameaçam agora o governo americano de pedir concordata. Obama deu a entender nesta semana que até pode ajudá-las se tiverem coragem de seguir em frente. Ao contrário de George W.Bush, não pretende aceitar ameaças ou chantagem. Vai poder resistir? Essa é uma questão em aberto em Washington, ainda assustado com as consequências trágicas da queda do Lehman Brothers. OBAMA REAFIRMA DECISÃO Mas não é só. Obama provou que tem urgência e coragem. Está atacando aqueles setores em crise dos quais depende qualquer recuperação: imobiliário e mercado interno. Muitos em Wall Street já saíram ontem criticando o pacote. Não vai resolver muito, é pouco, vai demorar a mostrar resultado, etc.etc. Mas quem disse que Obama acredita que vai resolver tudo? E que não é pouco? Ele mesmo declarou que o pacote de US$ 787 bilhões é apenas o início que tardou muito. Na verdade, Barack Obama está fazendo em menos de um mês o que a administração de George W. Bush não fez em um ano e meio, após a eclosão da bolha imobiliária. Não se previa a sua força de destruição? O governo Bush se limitou a socorrer o sistema financeiro desprezando o essencial, o mercado consumidor que gera demanda, produção e emprego. Falem o que quiserem falar, até agora o novo presidente americano está seguindo o caminho certo. Vejam a sua forma de comunicação com o público. É CONFIANÇA, SENHORES E está convencido de que, acima de tudo, é restabelecer a confiança. Tem um novo estilo. Não fala da torre da Casa Branca, mas em público. Em apenas 25 dias de governo, mais do que Bush em oito anos. Não eram discursos, era uma espécie de diálogos francos nos quais desfez esperanças imediatas, pediu sacrifício, cooperação e prometeu pouco. Só faltou o Sangue, Suor e Lágrima de Churchill. E continua seguindo essa política de comunicação. Pode não parecer importante, mas isso é vital. Por quê? O povo americano não acredita mais no governo. É isso mesmo. Preferiu se precaver, gastar menos e (pela primeira vez na história!) poupar mais, se entrincheirando à espera do pior. E o pior continua vindo quase todos os dias. Não há notícias boas, só ruins. Quando Bush falava, parecia daqui, era para dizer que tudo estava sob controle. Só que o desemprego e os despejos continuavam num crescendo assustador e a economia afundava. Obama sabia que de pouco adiantaria decretar medidas nas quais ninguém mais acreditava - foram tantas nos últimos meses - e esperar resultados que não são imediatos. Mostrou consciência de que a confiança é o maior segredo em qualquer projeto de sair da recessão, ainda mais quando ela aumenta a cada dia. Ir ao povo, falar francamente com o povo, prevenindo-o contra a expectativa de resultados imediatos impossíveis, pedir sua colaboração, o seu apoio. E é isso o que está fazendo. MAS SÓ EUA NÃO BASTAM Sim, não bastam não. É imprescindível que os outros países desenvolvidos ou emergentes sigam o seu exemplo, deem as suas contribuições para tirar o mundo da recessão. Os pacotes isolados de Obama terão efeitos limitados se as exportações americanas continuarem se retraindo por falta de mercado externo. Isso significa perda de emprego e conter a maior economia e o maior mercado importador mundial da qual dependem os outros países. Se Europa e Japão continuarem, como agora, fazendo pouco ou nada para incentivar a demanda interna, decididamente a economia mundial demorará pelo menos dois anos ou mais para sair da recessão. Obama pode estar certo, mas Nicholas Sarkozy, Angela Merkel e Taro Aso não. *E-mail: at@attglobal.net

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