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Sob efeito Brumadinho, produção de minério de ferro da Vale cai 21,5% em 2019

Mineradora também produziu menos no quarto trimestre; projeção para 2020 é de crescimento, apesar dos possíveis impactos do coronavírus

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernanda Guimarães e
Atualização:

RIO - Afetada pela paralisação de operações em decorrência do desastre com sua barragem em Brumadinho, Minas Gerais, a Vale viu sua produção de minério de ferro encolher 21,5% em 2019, para 301,97 milhões de toneladas. No quarto trimestre a mineradora produziu 78,344 milhões de toneladas, queda de 22,4% em relação ao reportado um ano antes. 

Em relatório divulgado nesta terça-feira, 11, a Vale mantém a estimativa de produção entre 340 milhões de toneladas e 355 milhões de toneladas para 2020, apesar dos possíveis impactos do coronavírus sobre a economia da China e das fortes chuvas em Minas Gerais no desempenho do primeiro trimestre.

Vale viu sua produção de minério de ferro encolher 21,5% em 2019 Foto: FABIO MOTTA/ESTAD?O

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A mineradora reconhece que os temporais de janeiro e fevereiro levaram a uma perda de aproximadamente 1 milhão de toneladas de produção, devido a interrupções temporárias de produção e transporte nos Sistemas Sul e Sudeste. Com isso, revisou a estimativa de produção para o primeiro trimestre em cinco milhões de toneladas.

As estimativas divulgadas não consideram efeitos de segunda ordem da epidemia de coronavírus. A Vale considera que no momento os impactos do vírus “parecem ser acomodados apenas por meio de alterações de preço” e afirma que pretende reestabelecer seus estoques em 2020, mesmo com risco de menor demanda chinesa. Essa recomposição pode implicar em vendas abaixo da produção.

Em relatório, o Citi avalia que os desafios serão grandes para a companhia entregar a sua meta de produção. "Os investidores esperam que a produção e vendas da Vale esteja no limite mais baixo do guidance (projeção), por conta dos dados de embarque e esperamos que este comunicado reforce essa percepção", diz a análise enviada ao mercado. Anualizando a produção do quarto trimestre, a instituição financeira destaca que o volume ficaria abaixo de 320 milhões de toneladas.

Os planos da Vale antes do rompimento da barragem que vitimou 270 pessoas era atingir a marca de 400 milhões de toneladas anuais de minério no ano passado. Com a tragédia, a mineradora teve que dar um passo atrás e adiar essa meta para pelo menos 2022, conforme projeções já divulgadas ao mercado.

A companhia afirma que está em conversas com a Agência Nacional de Mineração (ANM),  o Ministério Público de Minas e auditorias externas em relação ao plano de retomada de capacidade produtiva de 40 milhões de toneladas de minério com as operações de Timbopeba, Fábrica e Complexo Vargem Grande. A Vale espera receber as autorizações necessárias para retomar operações de Timbopeba ainda no primeiro trimestre, usando processamento a seco. No segundo trimestre seria a vez de Fábrica e a planta de pelotização de Vargem Grande ficaria para o terceiro trimestre.

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Enquanto a empresa tenta recuperar as operações minerias, o Sistema Norte segue ganhando importância em seu negócio. Em 2019 a região, que engloba Carajás e S11D, respondeu por 62,5% da produção de minério de ferro da Vale.  A expectativa é que o S11D, maior investimento da história da Vale, contribua com a capacidade plena de 90 milhões de toneladas de minério de alta qualidade para o volume total de produção de 2020.

Barragens

A Vale atualizou seu plano de descaracterização de barragens e informou que serão necessárias provisões adicionais, o que provocará um efeito líquido de US$ 671 milhões em seu balanço do quarto trimestre, a ser divulgado em 20 de fevereiro. Esse "colchão" de recursos será necessário principalmente porque mais duas barragens e outras três estruturas serão descaracterizadas.

A descaracterização é o processo pelo qual a estrutura de uma barragem é reincorporada ao relevo original e ao meio ambiente, ou seja, tal estrutura deixa de ter características ou de exercer função de barragem.

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Com os novos planos de descaracterização, as provisões relacionadas com a tragédia de Brumadinho sobem para US$ 6,7 bilhões, destaca o JPMorgan em relatório enviado ao mercado. Os analistas que assinam o documento, Rodolfo Angele, Marcio Farid e Lucas F. Yang, destacam que os investidores já tinham a preocupação de que os gastos com a tragédia poderiam subir e agora, com esse anúncio, a cautela será ainda maior.

A Vale informou que a primeira descaracterização, a da barragem 8B, foi concluída em dezembro e a segunda a deixar de existir será a de Fernandinho, em dezembro deste ano. A Agência Nacional de Mineração (ANM) tem estabelecido prazo para o fim das barragens a montante no Brasil, após a tragédia em Brumadinho, Minas Gerais, que completou um ano em janeiro.

A mineradora informou que foi concluída a estrutura de contenção para a barragem Sul Superior na cidade de Barão de Cocais. Já a construção das estruturas de contenção para as barragens B3/B4 e Forquilhas serão finalizadas no fim de junho, segundo a Vale. 

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A Vale destaca que o progresso dessas obras forneceu informações mais precisas sobre todo o processo e por isso identificou que a descaracterização das nove barragens a montante, cuja construção é semelhante ao método de construção da Barragem I (de Brumadinho, na mina Córrego do Feijão), será reduzida em US$ 447 milhões.

A companhia frisa, por outro lado, que algumas das barragens da Vale que têm diques internos menores, construídos utilizando método a montante, também serão descaracterizados. Por isso, será necessário um provisionamento adicional de US$ 315 milhões daquele que foi reconhecido no segundo trimestre do ano passado.

"Após a ruptura da Barragem I, a Vale iniciou uma profunda análise técnica do histórico e das condições atuais de todas as suas barragens", disse em fato relevante. Esses estudos serão concluídos, segundo a companhia, em junho de 2020. Tal análise, segundo a empresa, dará atenção especial para aquelas estruturas cujos projetos originais não são completos ou não tão precisos, grande parte deles, disse a Vale, de estruturas antigas incorporadas pela Vale em aquisições no passado.

Por conta de resultados de diversos estudos, a Agência Nacional de Mineração reclassificou o método de alteamento das barragens Doutor e Campo Grande de "linha de centro" para "a montante". Assim, elas serão descaracterizadas.

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